Monday, March 18, 2013

Acidentes fatais em Interlagos

 
No curto espaço de dois anos, entre 1962 e 1964, quatro pilotos morreram em treinos ou corridas de Mecânica Continental em Interlagos (Rio Negro, Dinho Bonotti, Celso Lara Barberis e Americo Cioffi). A pista estava em frangalhos, embora as frequentes visitas de cavalos fossem coisa de outrora. A maioria das corridas na época era realizada com DKWs e Renaults de menos de 100 cavalos, pesados Simcas e JKs com pouco mais de cem cavalos. Vez por outra aparecia um bólido, como as Simca Abarth.

A MC era a categoria top da época. Os carros eram antigos monopostos de GP equipados com motores V8 americanos, alguns com trinta anos de idade, além de carros esporte italianos com certa quilometragem (e idade), e monopostos da Fórmula Junior brasileira. Alcançavam altas velocidades nas retas, e geralmente, disputavam corridas no anel externo de Interlagos. Embora velozes, a maioria dos carros tinha freios, transmissões e pneus insuficientes para aguentar a potência dos carros, que se pilotados no limite, se tornavam perigosos. Além disso, muitos dos pilotos não eram ases do volante.
Entretanto, mesmo um ás como Barberis pereceu numa corrida da categoria.

Um acidente fatal numa pista é um fato lamentável e triste. Dois acidentes fatais num curto espaço de tempo, gera preocupação. Três acidentes fatais, dois deles num espaço curtíssimo de tempo, não é mera obra do acaso. É fato que deve suscitar discussões.

A morte de Rafael Spreafico não suscitou muito interesse na mídia internacional. Já as duas mortes de pilotos ocorridas em acidentes em Interlagos, num espaço curtíssimo de tempo, já é assunto para zum-zum-zum.

Convenhamos. Interlagos não está na lista de pistas preferidas de nenhum piloto de F1. Se sair do calendário, nenhum piloto ou equipe chorará. Apesar de tudo, a pista continua no calendário por que, com ou sem Senna, o Brasil continua a ser um dos principais mercados para a F1 no mundo, de certo o mais importante nas Américas. Mas há limites para tudo.

Chegaram a apontar a idade de Paulo Kunze como possível razão da sua morte. Com 67 anos, o piloto certamente já tinha uma certa idade para competições. Esse é, entretanto, um fator paralelo. Paul Newman competiu quase até 80 anos de idade, e um dos pilotos na primeira edição das Mil Milhas, Primo Fioresi, tinha 79 anos. Gustavo Sondermann, por outro lado, tinha só 28 anos. Dieter Quester e Hurley Haywood são outros pilotos que continuam a disputar longas provas, apesar de já terem ultrassado os 60 anos de idade.

Outros culpam a Curva do Café, local de dois dos acidentes fatais.

Diria que existe uma combinação de fatores. Enganomo-nos com a relativa segurança da F1 atual. O último acidente fatal na categoria se deu com Ayrton Senna, em 1 de maio de 1994, ou seja, quase dezessete anos atrás. Desde então, ocorreram alguns acidentes horríveis, como o de Robert Kubica no Canadá, e mesmo o de Schumacher em 1999, mas os pilotos saíram relativamente ilesos. Mas os acidentes fatais no automobilismo continuam no mundo inteiro. Nesses últimos 17 anos diversos pilotos falecerem na Fórmula Indy (Krosnoff, Rodriguez, Moore, Brayton) além de acidentes na F-2 (Surtees), carros esporte (Alboreto), NASCAR (Earnhardt), etc. etc. O automobilismo não é tão seguro como alguns pensam.

Diria o seguinte. A F1 é como a aviação comercial. Um meio mais controlado, com muita gente profissional cuidando de detalhes, e outros tanto, supervisionando. Já as outras categorias do automobilismo são como os teco-tecos da vida, pilotados por um mundaréu de gente inexperiente (e alguns sem qualquer talento), diletantes, com pouco controle. Por isso teco-tecos caem às pencas, e são relativamente poucos os acidentes com aviões de carreira. Por isso a morte se esvaiu da F1.

Acho até que como traçado para a F1 a pista atual de Interlagos não seja má. Diria, entretanto, que não é ideal para outras categorias. Um piloto (e um carro) de F1 tem capacidade infinitamente superior de escapar de certas situações que pilotos mais inexperientes, de categorias menores, com menos recursos, não têm.

Há algum tempo atrás, foi iniciado um movimento para trazer de volta o traçado antigo de Interlagos.

Acho uma boa. A meu ver (posso estar redondamente errado, os mais especializados que me corrijam, por favor), Interlagos antigo seria mais apropriado para as categorias (e nível, me desculpem os praticantes) do automobilismo doméstico. A possibilidade disso acontecer, reconheço, é próxima de zero com dinheiro público, pois quase todos os investimentos em empreendimentos esportivos estão alocados para a Copa do Mundo e Olimpíadas. Quanto a dinheiro particular, só se o Eike Batista se apaixonar pelo esporte...

Cabe notar que hoje o automobilismo doméstico é praticado com carros de primeira linha, como Lamborghinis, Ford GT40, além de carros da F3 internacional. Os próprios Stockcar têm uma bela cavalaria. Não são carros de fundo de quintal, alguns pilotados com muito cuidado por que o piloto só tem um motor.

O assunto é importante, haja visto a tendência atual de realizar corridas em pistas de rua no Brasil. Se não há segurança no principal autódromo do Brasil, que dizer das pistas de rua?

Uma coisa é certa - algo tem que ser feito. Se porventura ocorrer algum acidente feio num GP do Brasil, pode ser o fim da F1 no País.

Por fim, a imprensa generalizada quase nunca menciona o automobilismo doméstico. Entretanto, o esporte tem frequentado bastante as pautas dos jornais por ocasião dos últimos dois acidentes. É o tipo de propaganda negativa que o esporte não precisa.

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