Tuesday, March 5, 2013

O dia da Avallone na Super-Vê



Ao contrário da Fórmula Ford, que foi formada com 25 monopostos Bino, mas que na sua fase inicial contou com um ou outro carro feito na Inglaterra, a Fórmula Super-Vê, implementada no Brasil em 1974 prometia uma variedade razoável de chassis "made in Brazil". Diversos construtores anunciaram projetos. Alexandre Guimarães, responsável pelo Aranae da F-Vê, fez um acordo com a austríaca Kaimann para produzir os carros no Brasil. Outro grande produtor seria a Polar, de Ricardo Achcar e Ronald Rossi, que fabricaria o único Super Vê com chassis monocoque. A Heve dos irmãos Ferreirinha confirmara a sua entrada, além de três outros micro-construtores, a Newcar de Newton Pereira, a Manta de Marcio Leitão e a Mueller do gaúcho Claudio Mueller.

Entretanto, logo de cara ficou óbvio que as vitórias seriam compartilhadas pelo Kaimann e Polar. É verdade que o Newcar conseguiu um segundo lugar na segunda corrida, e o Heve ganhou uma bateria em São Paulo, mas na hora "H" as vitórias ficavam com a Polar e o Kaimann.

Na segunda temporada da Super-Vê surgiu o Avallone, que demonstrou maior potencial de vitória do que os outros concorrentes da Polar e Kaimann. Entre outras vantagens, o modelo foi escolhido pelo piloto Tite Catapani, um dos melhores do Brasil na época, e por Marivaldo Fernandes, além de Pedro Muffato e Sergio Benoni Sandri

Marivaldo já corria desde o início da década de 60, tendo disputado corridas com uma boa variedade de carros e tinha experiência internacional. Para 1975, Marivaldo decidiu embarcar em temporadas na Formula Ford e na Super-Vê, com Avallones.

A temporada da FF começou um pouco antes da Super Vê, e Marivaldo demonstrou bastante velocidade, mas pouca sorte. Marivaldo estreou seu carro de FSV, patrocinado pela Juvicol, na segunda prova do campeonato paulista de Super Vê. Nesta corrida, entretanto, Marivaldo não teve um desempenho muito bom, terminando em décimo-primeiro lugar.

Além do Campeonato Brasileiro, houve um Campeonato Paulista de Fórmula Super Vê em 1975. As duas provas do Brasileiro realizadas em Interlagos contavam para o Paulista, e quatro outras provas foram realizadas, fazendo um torneio de seis etapas. Apesar de ser um campeonato paulista, diversos pilotos de outros estados, como Pedro Muffato, Rafaele Rosito, Antonio Freire e Nelson Piquet participavam das provas do Paulista.

A terceira prova do torneio paulista foi realizada num frio 4 de maio de 1975. As duas primeiras foram ganhas por Chico Lameirão, que era o líder absoluto do torneio. Trinta e cinco carros largariam naquela prova, que teve Alfredo Guarana na pole, com 3m00.33s. Marivaldo fez o segundo tempo, com 3m03.67s, seguido de Celidonio, Lameirao, Achcar, Troncon, Piquet, Pati, Balder e Dabbur.

Em retrospectiva, o dia foi confuso. As baterias começaram com atraso, e em vez das três baterias habituais das corridas de Super Vê, só se realizaram duas. Outras corridas, da combalida Divisão 4 e da re-estreante Fórmula Vê, simplesmente não foram realizadas, manchando o bom padrão de organização das corridas de Super-Vê até então.

Na primeira bateria, Guaraná disparou na frente, e Lameirão logo chegou ao segundo lugar. Infelizmente o motor quebrou, e a bateria terminou com dobradinha da Equipe Marcas Famosas, com Guarana em primeiro, Celdionio em segundo e Marivaldo em terceiro, seguido de Amandio Ferreira, Mario Pati jr e Julio Caio.

A segunda bateria seria iniciada só às 16 horas, e o público reagiu com vaias. Guaraná, que teve uma excelente performance na primeira bateria, seria relegado à última posição, por alinhar atrasado, com problemas na mangueira do radiador de óleo. Só que Guaraná foi para a frente, e não para o lugar indicado, e a largada foi cancelada pelo diretor da corrida. Daí começou o ba-fa-fá, bastante comum nas corridas de Interlagos neste periodo e mais vaias. Guaraná acabou largando dos boxes.

Nelson Piquet, que terminara a primeira bateria em 28o. lugar, disparou como um foguete, passando em quinto na primeira volta. Quem liderava nesta altura, entretanto, era Marivaldo e seu Avallone. Eventualmente, Marivaldo foi ultrapassado por Piquet e por Teleco, que fazia excelente corrida com o carro da Gledson. Para Marivaldo, tudo azul, pois os dois carros da Marcas Famosas abandonaram logo no começo da segunda bateria.

Assim, Piquet terminou a bateria em primeiro, mas no resultado final, os dois vencedores de baterias figuraram muito longe dos 6 primeiros. Quem acabou vitorioso foi o veterano Marivaldo, que assim obtinha a primeira vitória da Avallone na Super-Vê, seguido de Teleco, Dabbur, Amandio, Rosito e Muffato. A humilde comemoração foi feita já à noite, sob as luzes de farol de um carro.

Esta acabou sendo a última vitória de Marivaldo, que morreria em 1977, no mesmo acidente de avião que levou José Carlos Pace. Quanto ao Avallone, nunca mais ganhou uma prova de Super-Vê, mas restou o orgulho de ter sido a única outra marca, além da Polar e Kaimann, a ter ganho provas na categoria.

Carlos de Paula é tradutor, escritor e historiador de automobilismo baseado em Miami

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