Monday, March 18, 2013

O fraco final de uma fraca temporada

A temporada brasileira de 1966 esteve longe de ser das melhores. É bem verdade que foi organizado um campeonato brasileiro, inaugurado o autódromo do Rio e aparecia uma nova grande equipe, a Dacon, com seus maravilhosos Karmann Ghia Porsche. Mas os pontos negativos superavam os positivos - duas das três equipes de fábrica fecharam, a Mecânica Continental dava seus últimos suspiros, a participação de Wilsinho na Europa fracassara, e as corridas, de modo geral caíram muito de nível relação a 1965, tanto quantitativa como qualitativamente.

Assim, não é de todo surpreendente que a corrida final da temporada tenha sido uma fraca prova em Interlagos, sem a participação de nenhum figurão do automobilismo.

Duas corridas foram realizadas. Uma de estreantes e novatos, realizada na pista inteira e ganha por Fausto Dabbur com 1093, e as 150 Milhas de Interlagos, para pilotos de competição, realizada no anel externo.

O evento, realizado sob forte calor e com parco público, teve todos os possíveis ares de mediocridade. A Federação Paulista não tinha uma equipe fixa de cronometristas, algo que os kartistas já tinham, assim improvisaram um equipe na última hora.

Só dois carros de grande potência foram inscritos, as carreteras de Nelson Marcilio e Aires Bueno Vidal. Além destes, poderiam surpreender Jose Ramos, com DKW Malzoni, Waldemir Costa com Interlagos e quem sabe, "Von Stuck", com FNM. O resto não tinha a mínima chance.

Após 9 minutos a corrida foi interrompida com o capotagem de Waldomiro Pieski no seu DKW. Como só havia uma ambulância no local, tiveram que esperar a volta da mesma para reiniciar a prova.

No fim das contas, a briga ficou mesmo entre Marcilio, que já havia ganho uma corrida do campeonato paulista, e Ramos. O diferencial de potência entre os carros era brutal, mas em 1966 as carreteras já estavam longe de ser competitivas e o Malzoni perturbou a carretera Ford. O train de corrida não foi lá essas coisas, e Aires Bueno Vidal marcou a melhor volta em 1m23.

A vitória acabou com Ramos, pois Marcilio perdeu um pneu, e de fato, cruzou a linha de chegada com somente três rodas. Uma revista chegou a dizer que fora a desforra dos Malzoni contra as carreteras. Lembrem-se que Camilo e sua carretera ganharam nos minutos finais as Mil Milhas contra bem preparados Malzonis que lideraram boa parte da corrida.

As coisas só poderiam melhorar em 1967...

Acidentes fatais em Interlagos

 
No curto espaço de dois anos, entre 1962 e 1964, quatro pilotos morreram em treinos ou corridas de Mecânica Continental em Interlagos (Rio Negro, Dinho Bonotti, Celso Lara Barberis e Americo Cioffi). A pista estava em frangalhos, embora as frequentes visitas de cavalos fossem coisa de outrora. A maioria das corridas na época era realizada com DKWs e Renaults de menos de 100 cavalos, pesados Simcas e JKs com pouco mais de cem cavalos. Vez por outra aparecia um bólido, como as Simca Abarth.

A MC era a categoria top da época. Os carros eram antigos monopostos de GP equipados com motores V8 americanos, alguns com trinta anos de idade, além de carros esporte italianos com certa quilometragem (e idade), e monopostos da Fórmula Junior brasileira. Alcançavam altas velocidades nas retas, e geralmente, disputavam corridas no anel externo de Interlagos. Embora velozes, a maioria dos carros tinha freios, transmissões e pneus insuficientes para aguentar a potência dos carros, que se pilotados no limite, se tornavam perigosos. Além disso, muitos dos pilotos não eram ases do volante.
Entretanto, mesmo um ás como Barberis pereceu numa corrida da categoria.

Um acidente fatal numa pista é um fato lamentável e triste. Dois acidentes fatais num curto espaço de tempo, gera preocupação. Três acidentes fatais, dois deles num espaço curtíssimo de tempo, não é mera obra do acaso. É fato que deve suscitar discussões.

A morte de Rafael Spreafico não suscitou muito interesse na mídia internacional. Já as duas mortes de pilotos ocorridas em acidentes em Interlagos, num espaço curtíssimo de tempo, já é assunto para zum-zum-zum.

Convenhamos. Interlagos não está na lista de pistas preferidas de nenhum piloto de F1. Se sair do calendário, nenhum piloto ou equipe chorará. Apesar de tudo, a pista continua no calendário por que, com ou sem Senna, o Brasil continua a ser um dos principais mercados para a F1 no mundo, de certo o mais importante nas Américas. Mas há limites para tudo.

Chegaram a apontar a idade de Paulo Kunze como possível razão da sua morte. Com 67 anos, o piloto certamente já tinha uma certa idade para competições. Esse é, entretanto, um fator paralelo. Paul Newman competiu quase até 80 anos de idade, e um dos pilotos na primeira edição das Mil Milhas, Primo Fioresi, tinha 79 anos. Gustavo Sondermann, por outro lado, tinha só 28 anos. Dieter Quester e Hurley Haywood são outros pilotos que continuam a disputar longas provas, apesar de já terem ultrassado os 60 anos de idade.

Outros culpam a Curva do Café, local de dois dos acidentes fatais.

Diria que existe uma combinação de fatores. Enganomo-nos com a relativa segurança da F1 atual. O último acidente fatal na categoria se deu com Ayrton Senna, em 1 de maio de 1994, ou seja, quase dezessete anos atrás. Desde então, ocorreram alguns acidentes horríveis, como o de Robert Kubica no Canadá, e mesmo o de Schumacher em 1999, mas os pilotos saíram relativamente ilesos. Mas os acidentes fatais no automobilismo continuam no mundo inteiro. Nesses últimos 17 anos diversos pilotos falecerem na Fórmula Indy (Krosnoff, Rodriguez, Moore, Brayton) além de acidentes na F-2 (Surtees), carros esporte (Alboreto), NASCAR (Earnhardt), etc. etc. O automobilismo não é tão seguro como alguns pensam.

Diria o seguinte. A F1 é como a aviação comercial. Um meio mais controlado, com muita gente profissional cuidando de detalhes, e outros tanto, supervisionando. Já as outras categorias do automobilismo são como os teco-tecos da vida, pilotados por um mundaréu de gente inexperiente (e alguns sem qualquer talento), diletantes, com pouco controle. Por isso teco-tecos caem às pencas, e são relativamente poucos os acidentes com aviões de carreira. Por isso a morte se esvaiu da F1.

Acho até que como traçado para a F1 a pista atual de Interlagos não seja má. Diria, entretanto, que não é ideal para outras categorias. Um piloto (e um carro) de F1 tem capacidade infinitamente superior de escapar de certas situações que pilotos mais inexperientes, de categorias menores, com menos recursos, não têm.

Há algum tempo atrás, foi iniciado um movimento para trazer de volta o traçado antigo de Interlagos.

Acho uma boa. A meu ver (posso estar redondamente errado, os mais especializados que me corrijam, por favor), Interlagos antigo seria mais apropriado para as categorias (e nível, me desculpem os praticantes) do automobilismo doméstico. A possibilidade disso acontecer, reconheço, é próxima de zero com dinheiro público, pois quase todos os investimentos em empreendimentos esportivos estão alocados para a Copa do Mundo e Olimpíadas. Quanto a dinheiro particular, só se o Eike Batista se apaixonar pelo esporte...

Cabe notar que hoje o automobilismo doméstico é praticado com carros de primeira linha, como Lamborghinis, Ford GT40, além de carros da F3 internacional. Os próprios Stockcar têm uma bela cavalaria. Não são carros de fundo de quintal, alguns pilotados com muito cuidado por que o piloto só tem um motor.

O assunto é importante, haja visto a tendência atual de realizar corridas em pistas de rua no Brasil. Se não há segurança no principal autódromo do Brasil, que dizer das pistas de rua?

Uma coisa é certa - algo tem que ser feito. Se porventura ocorrer algum acidente feio num GP do Brasil, pode ser o fim da F1 no País.

Por fim, a imprensa generalizada quase nunca menciona o automobilismo doméstico. Entretanto, o esporte tem frequentado bastante as pautas dos jornais por ocasião dos últimos dois acidentes. É o tipo de propaganda negativa que o esporte não precisa.

Crescimentos exagerados

 
No curto espaço de menos de um ano e meio, os grids da Fórmula Super Vê cresceram de meros 12 carros na prova inicial, de 1974, para quarenta e um bólidos na final de 1975. Viram certo, quarenta e um carros. Provavelmente um recorde em provas de monopostos no Brasil.

Quase nada em relação aos 71 carros que largaram numa das edições das Mil Milhas, se não me falha a memória a corrida de 1989.

É bem certo que depois da final de 1975, os grids murcharam na Super-Vê, e de fato, no último ano da categoria, já com o nome de Fórmula VW 1600, as corridas tinham, em média uns 13 carros.

Já a história da Turismo 5000 foi mais curiosa ainda.

A primeira prova quase não é realizada. A categoria, concebida para o anel externo de Interlagos, fora criada em 1981 por Orlando Casanova, então presidente da Federação Paulista. Houve muita discussão sobre o uso ou não do kit Quadrijet nos carros - Camillo Christofaro a favor, Expedito Marazzi contra.
Prevaleceu a exclusão do Quadrijet, que nivelava mais a concorrência entre carros diferentes.
A primeira corrida acabou tendo somente um inscrito, Ney Faustini, com Maverick. Casanova, desesperado, acabou ligando para Marazzi, que inscreveu seu próprio Maveco com direção hidráulica e toca-fitas. Mais alguns carrinhos foram acrescentados, e pimba, seis carros largaram na prova inicial.

Na semana seguinte, apareceram 12 carros. Na próxima etapa, dezoito. Depois, 33. E na próxima corrida, um recorde de 58 carros!

Não houve jeito de ter tantos carros na pista, assim, os vinte e cinco mais vagarosos foram excluídos.

A grande diferença entre as duas categorias é que a Super-Vê era a categoria mais profissional do automobilismo da época, chegando a ser chamada de Fórmula 1 brasileira, com certa liberdade poética. Já a Turismo 5000 era uma categoria de entusiastas, que não queriam deixar morrer os carros brasileiros de grande motorização.

Não durou muito em São Paulo, mas encontrou adeptos no Planalto Central, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, inclusive em pistas de terra do sul do Brasil.

Algumas outras corridas avulsas da Divisão 4 em 1972

Outro dia escrevi sobre duas provas avulsas da Divisão 4, realizadas em 1972, nas quais Antonio Carlos Avallone saiu-se vitorioso. O texto está no blog que escrevo dedicado ao piloto-construtor-promotor.

Ocorre que apesar do número pequeno de provas do campeonato brasileiro da categoria em 1972 (só três), foram realizadas diversas outras provas para protótipos nacionais no curso do ano, inclusive a prova realizada em Curitiba ganha por Norman Casari. Já escrevi sobre esta também.
Durante a realização da fracassada Copa Brasil, foi realizado um simpático torneio de provas de Divisão 4, preliminares das fracas provas da Copa. Acabaram sendo mais interessantes do que as corridas principais.

Foram realizadas três corridas, com a participação de um número já razoável de protótipos Avallone, a maioria com motores Chrysler, um com motor Chevrolet. No carro de "fábrica" estava Jan Balder - o baixinho já tinha problemas suficientes para administrar seu periclitante torneio. E foi justo Balder quem ganhou o torneio da D4.

Outros pilotos com Avallones foram Pedro Victor de Lamare (Chevrolet), Arthur Bragantini, Luis Carlos Pinto Fonseca com Chrysler.

Houve alguns pegas bons, entre Balder e PV na primeira corrida, e PV, LC Fonseca, Balder e Camilo Christofaro, na segunda corrida. Camilo corria com um Furia equipado com motor Chrysler. Além das corridas de D4, também houve provas da D3, sobre as quais escreverei em outro post.

Os resultados foram
Primeira corrida.
1. PV de Lamare, Avallone Chevrolet, 8 v em 25m13.62
2. Jan Balder, Avallone Chrysler
3. L.C. P. Fonseca, Avallone Chrysler
4. Camilo Christofaro, Furia Chrysler
5. Antonio Meirelles, Heve VW
6. Luis Alberto do Casal, Manta-VW
Segunda corrida
1. Camilo Christofaro, Furia Chrysler
2. Antonio Meirelles, Heve VW
3. Waldeban Ribeiro, Prot VW
4. L.Alberto do Casal, Manta VW
5. Jan Balder, Avallone Chrysler
6. Roberto Fermarato, Prot VW
Terceira corrida
1. Jan Balder, Avallone Chrysler
2. Arthur Bragantini, Avallone Chrysler
3. Camilo Christofaro, Furia Chrysler
4. L.C.P. Fonseca, Avallone Chrysler
5. Antonio Meirelles, Heve VW
6. Sergio Zamprogna, Puma

Na final do campeonato Brasileiro de Divisão 6 foi realizada também uma corrida para os carros da Divisão 4. A própria corrida de Divisão 6, ganha por Luis Pereira Bueno com seu invencível Porsche 908-2, contou com a participacção de diversos protótipos da D4, muitos dos quais participaram da prova da moribunda D6.

Nesta prova, a estreia de Arthur Bragantini com o Avallone Chrysler, o piloto paulistano não desapontou. Marcou a pole e ganhou a corrida, que contou com a participação de quinze carros. No ano seguinte Bragantini foi o piloto mais forte no começo do campeonato, porém um acidente em Curitiba destruiu seu carro e lhe tirou suas chances de prevalecer.

O resultado foi o seguinte
1. Arthur Bragantini, Avallone Chrysler
2. Camilo Christofaro, Prot. Lobo
3. Mauricio Chulam Neto, Heve-VW
4. Luis Carlos Pinto Fonseca, Avallone Chrysler
5. Newton Pereira, Heve-VW
6. Benjamin Rangel Fo. Heve VW
7. Waldeban Ribeiro, Newcar VW
8. Jacinto Tognato, Sabre VW
9. Mario Antunes, AC VW
10. Jose P Chateaubriand, Manta FNM
11. Adolfo Cilento Jr. Prot VW
12. Luis Moura Brito, Manta VW
13. Luis Alberto do Casal, Prot Manta VW
14. Marcelo de Paoli, Avallone Chrysler
15. Antonio C Avallone, Avallone Chrysler

Friday, March 15, 2013

A despedida que não foi, a meia estreia e a corrida de dois nomes



A história do automobilismo brasileira está pontuada de disse-não-disse, informações discrepantes, quases e pontos de interrogação. Isso se aplica ao Grande Prêmio Shopping Iguatemi de 1971.
1971 foi um ano marcante por que finalmente o Brasil tinha um calendário que estava sendo seguido, por bem, por mal, e no fim do ano foram declarados três campeões de categorias diferentes. Havia também um embate grande entre aqueles que defendiam as provas de longa distância e as provas curtas. Se por um lado as provas de longa distância atraíam mais carros e patrocinadores, por outro, provas mais curtas poderiam melhorar a qualidade dos carros que disputavam as corridas no Brasil. Pois em muitas das provas de longa duração, os resultados geralmente continham muitos resistentes (mas vagarosos) carros de mecânica VW, e os carros mais potentes e complexos acabavam ficando no meio do caminho.
Assim, embora o Campeonato Brasileiro de Viaturas Esporte daquele ano tivesse provas de longa duração, como as 12 Horas e as 6 Horas de Interlagos, houve diversas corridas extra-campeonato, de menor duração, para os mesmos carros que disputavam o certame.
Esta corrida de 124 voltas no anel externo de Interlagos foi realizada em agosto, como preparação para os 500 km, uma das principais corridas brasileiras. A corrida foi patrocinada pelo Clube de Lojistas do Shopping Center Iguatemi e assim ficou conhecida como G.P. Shopping Iguatemi. Mas Brasil, sendo Brasil, em alguns lugares a corrida aparece com o nome 250 Milhas de Interlagos - pois 124 voltas davam 248 milhas. Ou seja, fica aqui o registro, as 250 Milhas de Interlagos e o GP Shopping Iguatemi são a mesma corrida.
33 carros participaram da prova, inclusive os dois Porsches da Equipe Hollywood. A prova foi significativa por que foi a estréia de um carro que indicava o futuro do automobilismo brasileiro e seria a aposentadoria de outro que significava o seu passado.
Explico. A corrida seria a primeira prova do Avallone Chrysler, pilotado na ocasião por Jose Pedro Chateaubriand, piloto que normalmente víamos pilotando Pumas-VW - e também seria a anunciada aposentadoria da carretera Chevrolet Corvette número 18 de Camillo Christofaro, representante do passado.

A largada do G.P. Shopping Iguatemi
Além dos Porsches, uma grande variedade de carros participou da rápida prova. Jaime Silva lá estava com o Furia BMW, os Opalas de Pedro Victor de Lamare e de Carlos Alberto Sgarbi, Antonio Carlos Avallone com sua Lola T70, o BMW Esquife, a carretera de Antonio Carlos Aguiar (chamada pelo nome mais chique de protótipo), um protótipo Alfa 1.3 para Nathaniel Townsend, o protótipo Kinkos, o Milli-VW, o Newcar VW de Newton Pereira, além do feioso protótipo VW de Marcio Bueno e muitos Pumas, com em todas as principais corridas de 1971.
Luiz Pereira Bueno ganhou a corrida com facilidade e marcou o recorde oficial do anel externo de Interlagos (58s5/10) seguido de Lian Duarte, Avallone, Pedro Mello com Puma, Newton Pereira com Newcar e Townsend com o protótipo Alfa. Houve diversos acidentes na prova, inclusive com o protótipo de Marcio Bueno.

A quase aposentadoria da 18
Quanto à estréia do Avallone, acabou sendo uma meia estréia. O carro abandonou logo na primeira volta. Levou uma fechada e acabou sendo acertado por um Puma pilotado por Arthur Bragantini em começo de carreira. Já a carretera 18, também abandonou, após correr entre os ponteiros. Só que o famoso carro ainda seria levado às pistas uma última vez, na Prova Brasil realizada em dezembro em Interlagos.

As 84 Horas de Interlagos, 1971

Antonio Carlos Avallone havia concebido um evento de 84 horas a ser realizada em Interlagos, que foi inspirada na Marathon de La Route. A corrida foi anunciada como uma coisa certa, e devia ser disputada por 10 carros de cada um dos seguintes fabricantes: Chevrolet, VW, Ford-Willys, FNM, Chrysler e Puma. As inscrições seriam apenas por convite, com um total de 180 pilotos para os 60 carros. O plano, como a maioria dos planos de Avallone, era ambicioso, por envolver a participação de fabricantes, e nada foi ouvido sobre o projeto novamente.

Thursday, March 14, 2013

Terceira corrida da temporada de F3



Na terceira corrida da série, os pilotos estrangeiros estavam começando a pegar as manhas do autódromo de Interlagos, e os quatro melhores tempos foram marcados por não-brasileiros (Walker, Salvati, Trimmer, Francisci). Pace foi o melhor brasileiro, seguido de Bueno (8) e Fernandes (10). Wilson não registrou tempo. Na bateria a história foi diferente. Wilson passou em nono na primeira volta, sexto na segunda, quinto na terceira, em 3 º na quarta e estava na liderança na quinta volta, que ocupou até o fim. Walker, que liderou uma volta, teve que se contentar com o segundo lugar, enquanto Trimmer, que liderou as duas primeiras voltas, terminou em quarto. Salvati foi o terceiro, e Marivaldo Fernandes, que substituiu Hanson com Chevron, ficou em quinto e Beutler em sexto lugar. Os melhores brasileiros não se deram bem na segunda bateria, no entanto. Fittipaldi teve problemas no início, e os estrangeiros lideraram todas as voltas: Walker (1-2), Salvati (3-4-6-8-10) e Dubler (7-9). O vencedor foi Salvati, com Tecno, que terminou à frente de Purley, Trimmer e um trio de brasileiros, Ferreira, Rossi e Wilson Fittipaldi. Na geral, o resultado foi Salvati, Trimmer, Purley, Fittipaldi, Dubler e Marivaldo Fernandes.
A grande decepção da série foi o piloto que um dia venceria o campeonato mundial de Fórmula 1 - na verdade, o único a ganhar mais de um Grand Prix entre todos os pilotos do grupo: Alan Jones. Correu sempre entre os últimos, e não demonstrou a velocidade e espírito de luta que lhe seriam característicos no final da década.

Torneio Internacional de Formula 3, parte II, 1971



Os brasileiros fizeram o grande público em Interlagos muito feliz, quando se classificaram para a largada em 1-2-3 (Fittipaldi, Pace, Bueno), seguidos de Dubler e Gunnarson. Wilson repetiu sua grande performance nos treinos com uma vitória na primeira e segunda baterias. Na primeira bateria, Pace conseguiu ultrapassar Wilson, algumas vezes, mas Wilson recuperou a posição todas as vezes. Pace terminou em segundo, seguido por Walker, Migault e Jordan. Bueno correu em terceiro por um tempo, mas recuou e terminou em oitavo. Na segunda bateria, Wilson liderou novamente todas as voltas. Bueno se recuperou, e na segunda volta já estava em segundo lugar, posição que manteve até o fim. Giovanni Salvati, que foi oitavo na primeira volta, terminou em 3 º. Pace abandonou antes de completar a primeira volta. Na geral o resultado foi Fittipaldi, Bueno, Walker, Purley, Salvati, Trimmer. Um incidente de corrida entre David Walker e Fritz Jordan acabou em uma demonstração de boxe tailandês. Walker jogou Jordan para fora da pista, e os brasileiros esperaram o australiano para tomar satisfações. A equipe Lotus requereu a eliminação de Jordan mas eventualmente os pilotos fizeram as pazes - embora Walker continuasse a fazer inimigos durante sua estadia no Brasil, como veremos mais tarde.

Torneio Internacional de Formula 3, parte I, 1971



A Fórmula 3 foi a segunda etapa de um plano final ambicioso: hospedar um grand prix brasileiro de fórmula 1. Na verdade, o sonho estava tão próximo que durante a série de F-3 Emerson Fittipaldi pilotou o Lotus 49B que competiu na Argentina em uma demonstração em Interlagos, marcando 2m47.8s na pista interna, e 55.3s no circuito externo. Quanto à Fórmula 3, quatro rounds ocorreram, os três primeiros em Interlagos, a última corrida em Tarumã, e diversos bons pilotos europeus de Fórmula 3 foram levados pelo patrocinador RGT. Entre eles, o australiano David Walker, um piloto rápido, mas às vezes controverso. Outro australiano, que seria muito famoso no final da década, também esteve presente: Alan Jones. Os pilotos britânicos presentes foram David Purley, Tony Trimmer, Peter Hanson, Barrie Maskell, Mike Beutler e Mike Keens. Representando a França veio François Migault, enquanto os italianos Giovanni Salvati, Claudio Francisci e Giancarlo Gagliardi também se inscreveram. O contingente de estrangeiros foi completado com os suecos Sten Gunnarson e Torsten Palm e o suíço Jurg Dubler. Diversosb rasileiros foram inscritos, e os favoritos eram Wilson Fittipaldi Junior e José Carlos Pace. Luiz Pereira Bueno correu com Chevron, José Maria Ferreira e Ronald Rossi, Brabham, e Fritz Jordan também tinha um Lotus à sua disposição. Marivaldo Fernandes também disputou o Torneio.

As preliminares da F2 em 1972


Para um aficcionado atual do automobilismo, acostumado com calendários de F1 com vinte corridas, e herois que correm exclusivamente nos GPs, é um pouco difícil entender a F2 do início da década de 70.
Naquela época de calendários mais enxutos, e salários bem mais curtos, os pilotos ainda ganhavam uma boa grana pilotando em outras categorias, como Esporte-Protótipo, Fórmula 5000, Can-Am, Turismo, GT, Fórmula Indy, e acima de tudo, a Fórmula 2. De fato, pilotos de GP ainda ganhavam muitas corridas da categoria, e em 1972 nosso futuro campeão Emerson Fittipaldi ganhou três corridas do Campeonato Europeu.
Sendo assim, a Fórmula 2 era uma categoria de prestígio, na qual um novato podia combater por posições contra pilotos mais experientes, em alguns casos, até ex-campeões mundiais como Graham Hill e John Surtees.
As duas temporadas brasileiras de F2 deram assim oportunidades ímpares para bons pilotos brasileiros disputarem a categoria sem ter que vender todos os seus bens e embarcar numa aventura europeia. Em 1972 um desses pilotos foi Pedro Victor de Lamare, na época o rei da Divisão 3.
Não foi surpreendente que Pedro Victor, mais preocupado com a sua chance de brilhar entre algumas estrelas do automobilismo mundial como Ronnie Peterson, não tenha participado das preliminares do Torneio, dedicadas a carros da Divisão 3.
Não teve Pedro Victor, porém o carro da sua equipe lá estava, com Carlos Quartin de Moraes. E este, diga-se de passagem, simplesmente aniquilou com a concorrência.
Alguns diriam que foi até covardia. O carro da equipe Eletroradiobras era muito melhor do que os concorrentes, em grande parte, Fuscas de 1600 cc. Cacó, como era conhecido, ganhou as quatro corridas, não dando qualquer chance para Fabio Crespi ou Luis Celso Giannini, os únicos dois outros pilotos com Opalas 4100.
Também disputaram o pequeno torneio os Opalas 2500 de Giuseppe Ferruglio, José Argentino e Leopoldo Abi-Eçab, e o FNM 2150 de Frederico de Morais.
Entre os Fuscas, muita gente boa. José Pedro Chateaubriand deixou o FNM em casa e correu com VW, assim como Alfredo Guarana, Teleco, Ricardo di Loreto, Newton Pereira, Fausto Dabbur, Plinio Riva Giosa, Edson Yoshikuma, Amando Ferreira, Josil Jose Garcia, Hiroshi Yoshimoto, Mario Pati Junior, Ney Faustini e Waldeban Rodrigues.
Os resultados das provas foram
Primeira, 29 de outubro
1. Carlos Q. Moraes, Opala 4.1, 5 v 18m12.67s
2. Amando Ferreira, VW
3. Fausto Dabbur, VW
4. J.P. Chateaubriand, VW
5. Newton Pereira, VW
6. L.A.S. Veiga, VW
7. H. Yoshimoto, VW
8. Josil Garcia, VW
9. Plinio Giosa, VW
10. Jose Alverne, VW
Segunda, 29 de outubro
1. Carlos Q. Moraes, Opala, 5 v 18m16.69s
2. Alfredo Guarana, VW
3. Fausto Dabbur, VW
4. Amando Ferreira, VW
5. Hiroshi Yoshimoto, VW
6. L.A.S. Veiga, VW
7. Newton Pereira, VW
8. Jose Alverne, VW
9. Sergio Alhardeff, VW
10. Waldeban Rodrigues, VW
Terceira, 5 de novembro
1. Carlos Q. Moraes, Opala 5 v 17m46.53s
2. Newton Pereira, VW
3. L.A. S. Veiga, VW
4. Amandio Ferreira, VW
5. J.P. Chateaubriand, VW
6. F. Dabbur, VW
7. Ney Faustini, VW
8. H. Yoshimoto, VW
9. Wilson Sapag Hr, VW
10. Luis Scalamandre, VW
Quarta 5 de novembro
1. C.Q. Moraes, Opala 4100 5 v 18m05.15s
2. N. Pereira, VW
3. L.A.S. Veiga, VW
4. Plio Giosa, VW
5. Hiroshi Yoshimoto, VW
6. J.P. Chateaubriand, VW
Newton Pereira foi o campeão entre os VW, e Cacó, logicamente, entre os carros grandes.

A última vitória da Jolly


A equipe Jolly foi a grande equipe brasileira do final dos anos 60. de fato, em 1969, ano de poucas corridas, foi quase hegemônica no Brasil, ganhando corridas no Rio, Curitiba, Rio Grande do Sul, Fortaleza e Salvador. Em 1970 ainda ganhou algumas corridas, e em 1971, veio sua última grande vitória, nas 12 Horas de Interlagos.
Ocorre que em 1970 a 1971, chegaram no Brasil diversos bólidos muito mais rápidos do que as Alfas GTA e GTAM usadas pela Jolly. Sua P33 havia sido destruída pela segunda vez em 1970, e só sobraram os bem preparados cupês - que pouco ou nada podiam fazer contra os Porsches 908-2, 910, 907, Lolas T210 e T70, Royales e Ford GT40 da vida. Até alguns protótipos brasileiros, como os Avallone, alguns Mantas, Fúrias e Heves, já eram bem mais rápidos do que as GTA.
A última vitória da equipe se deu em 1972. Sei que na época do Torneio FIAT 147, alguns carros correram com sucesso sob patrocínio da Jolly, então uma concessionária Fiat. Porém, estou me limitando à equipe Jolly tradicional, que corria com as Alfas.
Em 1972, Marivaldo Fernandes e a Jolly trouxeram uma Alfa T33-3 para peitar os carros da Hollywood. A T33-3 pouco correu no Brasil. Era mais potenta do que o 908-2, porém, nas mãos de Marivaldo não era tão rápida quanto Luizinho com o 908-2. Ficou em segundo na prova dos Campeões, e em 4o. nos 500 de Interlagos. Nunca chegou a ganhar nada e foi aposentada no final do ano, embora tenha aparecido com motor Maverick, nas mãos de Angi Munhoz, na Cascavel de Ouro de 1973.

A última vitória da Jolly - e dos cupês da Alfa - no Brasil ocorreu no Festival de Roncos de 1972, na prova supostamente para Divisão 3. Na realidade, a Alfa GTA não era um carro de Divisão 3. Esta categoria existia para carros de turismo preparados, fabricados no Brasil. Ainda assim, uma Alfa de 1,6 litros (não a GTAM de 2 litros que ganhara as Mil Milhas e as 12 Horas, dos irmãos Diniz), foi inscrita para Antonio Castro Prado, piloto de Ribeirão Preto.
Castro Prado largou em último, dando azar no sorteio que determinou o grid. Entre outros, a prova contava com o veterano Ciro Cayres, com um rápido Opala 4100, diversos fuscas rápidos, o FNM de José Pedro Chateaubriand, e um Dart pilotado por um sujeito com o assustador nome de "Calígula".
Ciro liderou as primeiras voltas, seguido de Chateaubriand, que fez sua melhor corrida com o FNM. Entretanto, pouco a pouco Castro Prado foi chegando, a Alfa mostrando que ainda era páreo duro. Era um carro mais estável e veloz nas curvas, embora menos potente do que o Opala.
Assim Castro Prado obteve sua primeira de muitas vitórias, a Jolly sua última. Curiosamente, o carro não correu com um dos números típicos da Jolly, o 23, 25 ou 27. Seu número era 93! Castro Prado ainda tentaria participar dos 500 km de Interlagos (não largou) e foi terceiro na corrida de Belo Horizonte com o mesmo carro.
Resultado da corrida divisão 3 do Festival de Roncos
1. Antonio Castro Prado, Alfa Romeo GTA 1600, 10 voltas em 35m28.2s
2. Ciro Cayres, Opala 4100
3. José Pedro Chateaubriand, FNM 2150
4. Josil José Garcia, VW 1600
5. Alfredo Guarana Menezes, VW 1600
6. Hiroshi Yoshimoto, VW 1600
7. Sergio Alhadeff, VW 1600
8. Ney Faustini, VW 1600
9. "Caligula", Dodge Dart
10. Claudio Gonzalez, VW 1600
Carlos de Paula é tradutor, historiador de automobilismo e escritor baseado em Miami

As provas de D-3 da Copa Brasil, 1972


Quem diria. Nos dias em que um estupendo Porsche 917 de Intersérie, e um não menos espetacular Porsche 917, e um McLaren de Can-Am disputaram corridas em Interlagos, quem fez o show foi um outro carro alemão - a legião de Fuscas que geralmente corria nas provas de Divisão 3 em Interlagos.
Afinal de contas, ninguém conhecia Albert Pfuhl e alguns outros poucos estrangeiros que vieram para a Copa. De estrangeiro conhecido mesmo só Andrea de Adamich, piloto de F1. Depois escrevo sobre o delírio que foi a suposta lista de "inscritos" na Copa Brasil, em comparação com a parca realidade.
A festa ficou por conta dos Fuscas, até porque o quase hegemônico Pedro Victor de Lamare e seu Opala fizeram forfait. O caminho ficou aberto e só dois Opalas compareceram - o de Fábio Crespi, e de Luis Celso Giannini.
Entre o pessoal dos Fuscas, muita gente boa. Entre outros, Teleco, Julio Caio Azevedo Marques, Edson Yoshikuma, Ney Faustini, Ricardo di Loreto, Plinio Riva Giosa, Ronald Berg, Josil Jose Garcia, Alfredo Guarana Menezes, Newton Pereira e Amandio Ferreira.
Fabio Crespi conseguiu impor seu Opala em uma única corrida, e os Fuscas levaram as outras duas. Na única corrida em que participou, Giannini liderou a corrida no começo, porém teve problemas de suspensão com seu Opala e perdeu a corrida. Julio Caio ganhou o torneio na Classe A.
Os resultados foram os seguintes
Primeira corrida - 9 de dezembro de 1972
1. Luis Antonio Siqueira Veiga, VW, 8 v em 29m06.5 s
2. Armando Andreoni, VW
3. Edson Yoshikuma, VW
4. Fabio Crespi, Opala
5. Julio Caio A. Marques, VW
6. Ney Faustini, VW
Segunda corrida, 10 de dezembro
1. Fabio Crespi, Opala 4100, 8 v 29m19.2s
2. Julio Caio, VW
3. Plinio Riva Giosa, VW
4. Josil Jose Garcia, VW
5. Amandio Ferreira, VW
6. Ricardo di Loreto, VW
Terceira corrida, 17 de dezembro
1. Edson Yoshikuma, VW, 8 v 28m58.6s
2. Luis A. S. Veiga, VW
3. Julio Caio A. Marques, VW
4. Armando Andreoni, VW
5. Ronald Berg, VW
6. Ricardo di Loreto, VW
Carlos de Paula é tradutor, escritor e historiador de automobilismo baseado em Miami

Corrida do Milhão, 1981


Quem disse que só recentemente tivemos uma corrida do milhão no Brasil? Em 1981 também houve uma corrida do milhão, só que em moldes um pouco diferentes, claro.
Em janeiro daquele ano, a VW jogava um belo banho de água fria no automobilismo brasileiro, acabando, momentaneamente com seu love story com o esporte, iniciado em 1974. As fórmulas VW 1600 e 1300, e também o Torneio Passat, eram assum sumariamente eliminados do calendário nacional, para sempre.
Quem se deu bem foi a FIAT, que há alguns anos buscava uma brecha para lançar uma Fórmula FIAT no Brasil. Antes não dava, por que supostamente havia muitas categorias para um mercado tão pequeno. Porém, com a saída da F-VW 1300, a FIAT herdava não somente um grande plantel de carros, mas também de possíveis pilotos e equipes.
Assim foi. Diríamos que a Fórmula Fiat não foi tão bem sucedida quanto a Fórmula VW 1300, no seu auge sempre com grids cheios e muitas disputas. Também o timing da FIAT não foi dos melhores, agravava-se cada vez mais a crise econômica do Brasil nos anos 80.
Só que para lançar a categoria, a FIAT ofereceu 1 milhão em prêmios de largada para os participantes. Um senhor incentivo. 1 milhão estava longe de equivaler a US$500.000 na época, porém, não era café pequeno. Afinal de contas, um automóvel da FIAT custava mais ou menos 450 mil, ou seja, o prêmio correspondia ao preço de dois carros. Nada mal, considerando-se que o prêmio dado a Clovis Moraes por ganhar seu terceiro campeonato de F-Ford em 1975 foi um Corcel.
Enganam-se se acham que grid estava cheio. Somente 18 carros apareceram, e muita gente estava tendo problemas para acertar os carros da nova fórmula, e só 11 treinaram.
Curiosamente, um dos pilotos mais bem preparados foi o pernambucano Antonio Teixeira, e seu TF, campeão da F-VW 1300 no Nordeste na temporada anterior. Seu carro marcou o segundo tempo na classificação, e durante a corrida, chegou em segundo. Ele mesmo ficou abismado com a falta de preparo dos pilotos do sul.
A corrida também contou com a participação de Mauricio Gugelmin, futuro piloto de F1 e Indy, que chegou em terceiro. O vencedor foi Victor Marrese, que marcou uma excelente melhor volta, 3m18.95s, quase 4 segundos mais rápido do que a sua pole.
Carlos de Paula é tradutor, historiador do automobilismo brasileiro e escritor baseado em Miami

Thursday, March 7, 2013

O GP da quinta-feira



Uma das características mais curiosas do primeiro GP de Fórmula 1 realizado no Brasil, em 1972, foi o dia em que foi realizado - uma quinta-feira!

Na realidade, a corrida não tinha sido originalmente marcada para o dia 30 de março. Tinha sido marcada para uma sexta-feira, dia 31!

Não fiquem agitados. O dia 31 era sexta-feira Santa naquele ano, portanto, os dirigentes do nosso automobilismo não estavam loucos.

A corrida foi mudada para o dia 30 por que no dia 2 seria realizada uma prova de Fórmula 2 do Campeonato Europeu, em Thruxton na Inglaterra, e muitos pilotos inscritos na nossa corrida também estavam inscritos na prova de F-2, coisa levada a sério na época. Inclusive alguns brasileiros estavam inscritos na corrida de F-2, Pace e Wilsinho.

Não houve jeito, senão remarcar a prova para uma quinta-feira. Acho que foi o único GP de F1 realizado numa quinta-feira, até hoje.

Muitos pilotos que supostamente estavam "confirmados" acabaram não vindo para a corrida. Algumas reportagens davam como certa a vinda da Ferrari, com Ickx e Regazzoni, da Tecno, com Bell e Galli (diga-se de passagem, dois Tecnos nunca correram numa única corrida), Rolf Stommelen com o Eifelland, Howden Ganley, com BRM e Niki Lauda com March, sem contar sugestões de que Lian Duarte participaria da corrida. Os boatos sobre Lian, desde 1970, eram muito insistentes na época. Entretanto, salvo pela sua má fadada temporada europeia com as Pygmee e sua participação no Temporada de F2 com a Surtees, nunca se concretizaram. Além destes, estariam inscritos como reservas Sam Posey e Alan Rollinson, o último sem dúvida uma escolha esquisita, pois nunca tinha corrido no Mundial de F-1 antes. O próprio Posey não era habituée das corridas de F1.

Na hora "h", estavam presentes quatro BRMs, que passaram vergonha, dois Brabham, dois Lotus, os dois carros de Frank Williams, e duas Marches de fábrica, uma delas com Luiz Pereira Bueno. Alguns dizem, incorretamente, que o carro foi inscrito pela Equipe Hollywood, mas era um carro da fábrica, com decalques e patrocínio da Hollywood, só isso.

Os mais jovens não devem cair no erro de supor que a realização do GP do Brasil de 1972 tinha a ver com o estupendo sucesso obtido por Emerson Fittipaldi no circuito de F1 daquele ano. Ledo engano. De fato, Antonio Carlos Scavone já vinha negociando a realização da prova desde 1971 (e os planos já existiam desde pelo menos a realização do Torneio BUA de F-Ford, de 1970, quem sabe antes). Teria sido interessante se Scavone tivesse tido tempo para escrever suas memórias, mas infelizmente o apto empresário morreu num acidente da Varig em Paris em 1973 e o automobilismo brasileiro perdeu um grande homem.



O GP do Brasil de 1972, na realidade, ocorreu antes que Emerson começasse a ganhar provas do Mundial de Pilotos de 1972. Naquele ano, Emerson só havia ainda ganho a Prova dos Campeões, sua segunda vitória na F1.

Seis brasileiros entre os dez primeiros de uma prova de F-2



É óbvio que não estou falando da relançada Formula 2, que nem começou, e que de qualquer forma, tem somente um brasileiro entre suas fileiras, o Carlos Iaconelli. E também não estou me referindo ao campeonato Europeu de Formula 2, pois no máximo quatro brasileiros chegaram a tentar disputar uma mesma prova deste campeonato. Estou falando de uma prova das duas temporadas brasileiras de F-2, que ocorreram em 1971 e 1972.

O grande sucesso brasileiro se deu na segunda etapa do torneio, realizada em Interlagos em 5 de novembro de 1972. Havia sete brasileiros disputando a prova que contou com muitos estrangeiros bons. O campeão Michael Hailwood lá estava com seu Surtees, assim como Ronnie Peterson, Andrea de Adamich, Tim Schenken, Henri Pescarolo, Bob Wollek, David Purley, David Morgan, Jean Pierre Jaussaud (vice em 72), Brett Lunger, Jose Dolhem, o futuro campeão de F-1 James Hunt e Carlos Ruesch. Uma das atrações do torneio, o suiço Clay Reggazzoni, foi correr na África do Sul nas 9 Horas de Kyalami, assim vagando um carro para um brasileiro. Quem conseguiu a disputada vaga foi Chiquinho Lameirão, com apoio da Motoradio, que assim pode incluir a Formula 2 no seu longo currículo.

Além do estreante Lameirão, o contingente brasileiro contava com Emerson e Wilson Fittipaldi, José Carlos Pace e Lian Duarte, todos com experiência na F-2 européia, e dois outos pilotos que contrataram carros para a temporada, Pedro Victor de Lamare e Silvio Montenegro.
A corrida simplsmente foi de Pace, que liderou a primeira bateria inteira, ganhando com 13 segundos de diferença sobre Emerson e Hailwood. Na segunda, Emerson conseguiu largar melhor, mas Pace logo o alcançou e assumiu a liderança permanentemente na segunda volta, após ter passado Emerson com uma bandeira amarela e dado a posição de volta.

Emerson teve problemas para segurar Hailwood na segunda bateria, mas terminou em segundo na soma dos tempos. O inglês terminou em terceiro, seguido de Wilson Fittipaldi Junior, Bob Wollek, Jose Dolhem e Brett Lunger. Em oitavo, nono e décimo três outros brasileiros, Pedro Victor de Lamare, Chico Lameirão e Silvio Montenegro. Ou seja, seis brasileiros entre os dez primeiros de uma prova de Formula 2.

O único brasileiro a não participar da festa foi Lian Duarte, justo ele que havia terminado a primeira bateria em sétimo e estava em quinto quando abandonou a segunda bateria. Estava fazendo de longe a sua melhor prova na F-2, depois de sofrer com o Pygmée na Europa. Na realidade os brasileiros deram sorte por que muitos dos estrangeiros mais velozes abandonaram já na primeira bateria, deixando o caminho livre para os brazucas.

Há um fato curioso nessa grande vitória de Pace. O brasileiro havia sido contratado pela equipe Surtees antes do final da temporada européia, para correr nas Fórmulas 1 e 2 em 1973. Há quem jure na Argentina até hoje, que o lugar era prometido para Carlos Ruesch, piloto da Surtees na F-2. Curiosamente, justamente no palco da grande vitória de Moco, que também ficou com o recorde de F-2 de Interlagos, o argentino anunciou que abandonaria as pistas para cuidar dos seus bois. Quem sabe "el fichon" caiu naquele dia.

Carlos de Paula é tradutor, escritor e historiador de automobilismo, baseado em Miami

Tuesday, March 5, 2013

REABERTURA DE INTERLAGOS - TORNEIO BUA DE 1970

 

Muita coisa se passou entre o final de 1967 e começo de 1970, no Brasil e no mundo. No Brasil, as esperanças de que o país voltasse à democracia mesmo num médio prazo se foram com a assinatura do AI-5. O mundo estava em ebulição. Estudantes, acostumados a somente estudar e calar o bico, se revoltaram no mundo inteiro, inclusive no Brasil. Os inócuos Chico Buarque de “A Banda” e Caetano Veloso, de “Alegria, Alegria” foram vistos como perigosos inimigos do regime e amargavam exílio. O final da Guerra do Vietnã parecia impossível, a luta armada se estabelecera no País, cuja economia dava sinais de recuperação. A revolução dos costumes deste curto período deu início à grande crise mundial das drogas, cujo grande resultado foi a violência urbana que hoje aflige o Brasil.

Durante este período o autódromo de Interlagos, o primeiro do país, hibernou um sono profundo. Fechado após a realização das Mil Milhas de 1967, a pista ficou de ser liberada algumas vezes, mas num país que parecia estar todo em reformas, a transformação de uma pista de corridas não era prioritária. São Paulo da época parecia um parque de obras - Minhocão, metrô, 23 de maio. E já se falava num Rodoanel! Bem, já se falava em colocar a capital brasileira no planalto central na presidência de Deodoro da Fonseca - as coisas demoravam para acontecer no Brasil...

As Mil Milhas de 1967 foram importantes por uma série de razões, já cobertas num artigo anterior. Mas em retrospectiva de 1970, muita coisa mudara no automobilismo local. Aquela Mil Milhas foi a única ganha por uma das equipes de fábrica que dominaram o automobilismo dos anos 60 (eu considero a FNM uma equipe semi-oficial), e em 1970 a última equipe de fábrica, a Ford-Willys, já tinha ido para o beleléu, em 1968. Em compensação, as muitas carreteras, Gordinis e DKWs de 1967 deram caminho a carros de corrida de última geração, como a Lola T70, Ford GT40, Alfa P33, bem preparados protótipos de concepção moderna, como o AC e até mesmo Fuscas mais bem preparados do que dois anos antes.

O mais importante de tudo, entretanto, é que a falta de Interlagos forçou nossos pilotos mais ambiciosos a buscar carreira no exterior, a partir de 1968. E de fato, dois deles, Emerson Fittipaldi e Luis Pereira Bueno, obtiveram muitas vitórias em 1969, tendo Emerson se tornado campeão de F3 na Inglaterra, e considerado grande promessa para o futuro. Ao passo que em 1967 brasileiros eram ilustres desconhecidos na Europa, em 1970, gente importante do meio como Colin Chapman e Stirling Moss já reconhecia o talento dos brasileiros.

Embora a pista tenha sido fechada em 1967 com a principal prova do país, com pequeno gosto internacional devido a presença de alguns pilotos portugueses, a reabertura do autódromo estava programada com a final do primeiro torneio brasileiro de monopostos a ser realizado no Brasil. Os Torneios Sul-Americanos dos anos 50 e 60 eram meros affairs regionais, ao passo que o Torneio BUA contou com pilotos de diversas nacionalidades - ingleses, australianos, dinamarqueses, holandeses.

O povo paulista sentia falta das corridas, e Interlagos estava cheio naquela final do Torneio, que já tivera duas etapas no Rio, uma em Curitiba e outra em Fortaleza. De fato, tão cheio quanto em alguns futuros GPs de F-1. E Interlagos viu, naquele dia, possivelmente a melhor corrida de monopostos da sua história até então.

Diversos brasileiros estavam inscritos na corrida. Além do favorito Emerson e seu irmão Wilson, estariam presentes Franciso Lameirão, que fazia sua única corrida no torneio, em um dos carros da equipe Renner Tergal, Pedro Victor de Lamare, Norman Casari, Milton Amal, José Moraes Neto, Luiz Pereira Bueno, Marivaldo Fernandes. De fato, nos treinos os brasileiros estavam muito bem. Só um estrangeiro, Ray Allen, conseguiu estar entre os sete primeiros tempos. Emerson fez a pole em 3m13.2, seguido de Ray Allen, 3m13.7, Wilsinho 3m13.8, Luizinho 3m15.7, Marivaldo 3m17.0, Lameirão 3m17.2, Casari 3m19.2, Ian Ashley 3m19.5, Peter Hull 3m20.2, Ed Patrick 3m21.1, Reg James 3m21.5, Tom Walkinshaw 3m21.8, Tom Belso 3m21.9, Vern Schuppan 3m22.0, Tom Lanfranchi 3m22.8, Clive Santo 3m35.4, Max Fletcher 3m26.0, Milton Amaral 3m27.0, de Lamare 3m32.0, a bonitona Liane Engemann 3m32.5 e José Moraes Neto 3m32.6.

A corrida teve duas baterias com muitas ultrapassagens e emoção. Os estrangeiros melhoraram um pouco sua performance em relação aos treinos, e Allen, Ashley e Hull batalharam pelas primeiras posições. Peter Hull e Reg James chegam a fazer a curva da Ferradura com rodas encaixadas na primeira bateria!! Emerson controlou na ponta, e chegou 5.8 segundos na frente do seu irmão, seguido de Allen, Luizinho, Ashley, Lameirão, Hull, Belso, Clive e os outros. A melhor volta ficou com o inglês Ray Allen, em 3m13.0, melhor que a pole de Emerson.

Na segunda bateria Ashley conseguiu pular da segunda fila para a ponta, seguido de Emerson, Wilsinho e Luizinho. Entretanto Emerson conseguiu ultrapassar o inglês e terminar a primeira volta na ponta. Mas a luta entre os dois Fittipaldi e Ashley é intensa, e cada hora um lidera, trocando posições diversas vezes. Lameirão, apesar de estreante, impressiona bastante a certa altura ocupando a quarta posição ao ultrapassar Allen. No meio da bateria Emerson e Ashley se firmam na ponta, distanciando-se de Wilson. Na quinta volta Ashley consegue ultrapassar Emerson, mas o brasileiro conseguiu ultrapassar o inglês no retão, gerando forte reação do público, que fica de pé. Ashley conseguiu ultrapassar Emerson mais uma vez na sétima volta, mas este era o dia de Emerson, para selar o sucesso obtido nas quatro etapas anteriores. O resultado final da bateria foi Emerson, Ashley, Wilsinho, Allen, Lameirão, que andou sempre entre os primeiros, Hull, Belson, Schuppan, Santo, Fletcher, Walkinshaw, Luizinho, Pedro Victor e Engemann. Emerson também marcou a melhor volta, 3m11.5, novo recorde de Interlagos.

A programação também contou com provas de motocicletas e da risível Formula Brasil, além do patrocínio da empresa aérea inglesa BUA, essencial para transportar os carros a um custo baixo, e do Canal 5, que assim iniciava seu caso de amor com o automobilismo. Com o novo Interlagos iniciava-se uma nova fase do automobilismo nacional, embora o próprio ano de 1970 ainda demonstrasse certos cânceres que ainda corroíam nosso automobilismo doméstico, nas pistas e nos bastidores. Estava lançada a sorte, o Brasil se inseria de vez no contexto internacional, em termos de eventos e autódromo. E não saiu mais desse contexto.

Carlos de Paula é tradutor, escritor e historiador de automobilismo baseado em Miami 

A estréia do Porsche 908-2 no Brasil

 

O Porsche 908-2 ficou famoso nas cores da Hollywood em 1971 e 1972, mas na sua estréia, era um carro verde e branco com pequenos adesivos da STP e do banco COMIND. A Equipe Z se tornaria, após duas corridas com o 908-2, em Equipe Hollywood, que dominaria completamente as corridas de esporte protótipo daquele ano.

A estréia do 908-2 se deu numa corrida em Interlagos, na prova chamada Torneio União e Disciplina. O patrocinador deveria ser o DOPS. Brincadeira a parte, somente o GP da Democracia de 1964 teria um nome com óbvio intento político quanto a União e Disciplina.

Além do 908-2, a Equipe Z também adquirira o Porsche 910 que tinha sido da Speed Motors, e antes disso, de Mario Olivetti. Quando o petropolense era proprietário do carro, curiosamente a equipe era patrocinada pela Hollywood, e, de fato, a equipe era conhecida como Souza Cruz.

O cívico torneio teria a prova de Esportes-Protótipos, uma corrida de protótipos nacionais (precursora da Divisão 4) e carros turismo e uma corrida de estreantes e novatos.

Na prova principal, Luizinho Pereira Bueno largou atrás com o carrão, mas ainda assim, ganhou as duas baterias com certa facilidade. Havia outros carros bons na prova. Duas Lolas T70, uma com Antonio Carlos Avallone e outra com Norman Casari, a Lolinha de Tite Catapani, o 910 com Lian Duarte, um Royale de Sergio Mattos e o Casari de Renato Peixoto. Além disso, participaram cinco Pumas, o Amato-Chevrolet de Salvatore Amato, o Camber com Luis Estevao e o Milli-VW com José Minelli.

Luizinho rodou sempre por volta de 3 minutos, e de fato conseguiu disparar na frente apesar de largar em último! Um novo paradigma de performance acabava de ser estabelecido para as pistas brasileiras, diga-se de passagem, nunca igualado na época. Luizinho liderou todas as voltas com tranquilidade, e marcou 3m0,4s na sua melhor volta. Coitado de Tite, que já estava se acostumando em ganhar corridas com a Lolinha. O 908-2 seria a sua pedra de tropeço em 1971 e 1972. Salvatore Amato merece menção honrosa, pois na segunda bateria conseguiu se manter na frente de Antonio Carlos Avallone, cuja Lola tinha o dobro de cilindrada.

Na corrida dos Divisão 4, Jan Balder deu a Norman Casari a alegria que lhe faltou na prova principal. Nesta a azarada Lola laranja da Equipe Brahma fundiu o motor logo na primeira volta da primeira bateria. O protótipo carioca, com motor Ford Galaxie e DNA do Carcará, fez as 8 voltas em 27m,44,5s, chegando à frente de Salvatore Amato, dos dois Pumas de Waldemyr Costa e Helio Vasiliauskas, e de Jose Minelli com seu Milli-VW. A melhor volta de Balder foi 3m22.3. O melhor entre os carros turismo acabou sendo Ricardo di Loreto, com um Fusca. Dois Opalas, com Carlos Alberto Sgarbi e Silvio Montenegro, abandonaram.

Primeira vitória do Casari. Com Jan Balder no volante.

Um taxista se inscreveu na prova de estreantes e novatos, postulando uma mudança de carreira. Infelizmente, não foi muito bem sucedido, viu que a coisa era mais séria e voltou à mais pacata praça.

O dia da Avallone na Super-Vê



Ao contrário da Fórmula Ford, que foi formada com 25 monopostos Bino, mas que na sua fase inicial contou com um ou outro carro feito na Inglaterra, a Fórmula Super-Vê, implementada no Brasil em 1974 prometia uma variedade razoável de chassis "made in Brazil". Diversos construtores anunciaram projetos. Alexandre Guimarães, responsável pelo Aranae da F-Vê, fez um acordo com a austríaca Kaimann para produzir os carros no Brasil. Outro grande produtor seria a Polar, de Ricardo Achcar e Ronald Rossi, que fabricaria o único Super Vê com chassis monocoque. A Heve dos irmãos Ferreirinha confirmara a sua entrada, além de três outros micro-construtores, a Newcar de Newton Pereira, a Manta de Marcio Leitão e a Mueller do gaúcho Claudio Mueller.

Entretanto, logo de cara ficou óbvio que as vitórias seriam compartilhadas pelo Kaimann e Polar. É verdade que o Newcar conseguiu um segundo lugar na segunda corrida, e o Heve ganhou uma bateria em São Paulo, mas na hora "H" as vitórias ficavam com a Polar e o Kaimann.

Na segunda temporada da Super-Vê surgiu o Avallone, que demonstrou maior potencial de vitória do que os outros concorrentes da Polar e Kaimann. Entre outras vantagens, o modelo foi escolhido pelo piloto Tite Catapani, um dos melhores do Brasil na época, e por Marivaldo Fernandes, além de Pedro Muffato e Sergio Benoni Sandri

Marivaldo já corria desde o início da década de 60, tendo disputado corridas com uma boa variedade de carros e tinha experiência internacional. Para 1975, Marivaldo decidiu embarcar em temporadas na Formula Ford e na Super-Vê, com Avallones.

A temporada da FF começou um pouco antes da Super Vê, e Marivaldo demonstrou bastante velocidade, mas pouca sorte. Marivaldo estreou seu carro de FSV, patrocinado pela Juvicol, na segunda prova do campeonato paulista de Super Vê. Nesta corrida, entretanto, Marivaldo não teve um desempenho muito bom, terminando em décimo-primeiro lugar.

Além do Campeonato Brasileiro, houve um Campeonato Paulista de Fórmula Super Vê em 1975. As duas provas do Brasileiro realizadas em Interlagos contavam para o Paulista, e quatro outras provas foram realizadas, fazendo um torneio de seis etapas. Apesar de ser um campeonato paulista, diversos pilotos de outros estados, como Pedro Muffato, Rafaele Rosito, Antonio Freire e Nelson Piquet participavam das provas do Paulista.

A terceira prova do torneio paulista foi realizada num frio 4 de maio de 1975. As duas primeiras foram ganhas por Chico Lameirão, que era o líder absoluto do torneio. Trinta e cinco carros largariam naquela prova, que teve Alfredo Guarana na pole, com 3m00.33s. Marivaldo fez o segundo tempo, com 3m03.67s, seguido de Celidonio, Lameirao, Achcar, Troncon, Piquet, Pati, Balder e Dabbur.

Em retrospectiva, o dia foi confuso. As baterias começaram com atraso, e em vez das três baterias habituais das corridas de Super Vê, só se realizaram duas. Outras corridas, da combalida Divisão 4 e da re-estreante Fórmula Vê, simplesmente não foram realizadas, manchando o bom padrão de organização das corridas de Super-Vê até então.

Na primeira bateria, Guaraná disparou na frente, e Lameirão logo chegou ao segundo lugar. Infelizmente o motor quebrou, e a bateria terminou com dobradinha da Equipe Marcas Famosas, com Guarana em primeiro, Celdionio em segundo e Marivaldo em terceiro, seguido de Amandio Ferreira, Mario Pati jr e Julio Caio.

A segunda bateria seria iniciada só às 16 horas, e o público reagiu com vaias. Guaraná, que teve uma excelente performance na primeira bateria, seria relegado à última posição, por alinhar atrasado, com problemas na mangueira do radiador de óleo. Só que Guaraná foi para a frente, e não para o lugar indicado, e a largada foi cancelada pelo diretor da corrida. Daí começou o ba-fa-fá, bastante comum nas corridas de Interlagos neste periodo e mais vaias. Guaraná acabou largando dos boxes.

Nelson Piquet, que terminara a primeira bateria em 28o. lugar, disparou como um foguete, passando em quinto na primeira volta. Quem liderava nesta altura, entretanto, era Marivaldo e seu Avallone. Eventualmente, Marivaldo foi ultrapassado por Piquet e por Teleco, que fazia excelente corrida com o carro da Gledson. Para Marivaldo, tudo azul, pois os dois carros da Marcas Famosas abandonaram logo no começo da segunda bateria.

Assim, Piquet terminou a bateria em primeiro, mas no resultado final, os dois vencedores de baterias figuraram muito longe dos 6 primeiros. Quem acabou vitorioso foi o veterano Marivaldo, que assim obtinha a primeira vitória da Avallone na Super-Vê, seguido de Teleco, Dabbur, Amandio, Rosito e Muffato. A humilde comemoração foi feita já à noite, sob as luzes de farol de um carro.

Esta acabou sendo a última vitória de Marivaldo, que morreria em 1977, no mesmo acidente de avião que levou José Carlos Pace. Quanto ao Avallone, nunca mais ganhou uma prova de Super-Vê, mas restou o orgulho de ter sido a única outra marca, além da Polar e Kaimann, a ter ganho provas na categoria.

Carlos de Paula é tradutor, escritor e historiador de automobilismo baseado em Miami

Tuesday, February 26, 2013

1600 KM DE INTERLAGOS DE 1965: DIA DE GORDINI

 

A guerra entre a Federação Paulista de Automobilismo e o Automóvel Clube estava de vento em popa, em março de 1965, e foi a principal causa de um hiato de 6 meses de corridas em Interlagos. Sem dúvida essa foi a razão do bom público dos 1600 Km, com a renda de Cr$8.672.000 superando os prêmios, Cr$5.150.000. Foram vendidos 6042 ingressos individuais, e 454 para carros.

Mas o ACESP tentou embargar a prova, que seria organizada pela Associação dos Volantes de Competição, através de uma liminar. A prova só foi salva por que um major, Sylvio de Magalhães Padilha, na época presidente do Conselho Regional de Desportos, decidira que a prova ocorreria, com ou sem mandado de segurança. Cabe lembrar que nessa época os militares cantavam mais alto do que o judiciário...

Pois 40 carros foram inscritos, e 32 apareceram para a corrida de 200 voltas, no circuito completo de Interlagos. Entre os inscritos, as três equipes de fábrica, Willys, Simca e Vemag. Como a prova era para carros de turismo, preparo livre, nada de Abarths, Malzonis e Interlagos/Alpines. A Willys teve que inscrever carreteras Gordini com motor R8 de 1100 cc, a Simca veio com Tufões e a Vemag com Belcars e carreteras, inclusive a estréia, não muito auspiciosa, da famosa Mickey Mouse com Chiquinho Lameirão/Marinho.

Em tese, as fábricas teriam muito trabalho, pois correriam com carros inferiores contra as melhores carreteras da época, que nessa época ainda eram bem cotadas. Estavam inscritos Camilo Cristófaro, com a sua famosa Corvette 18 fazendo dupla com Aguinaldo de Góes, Caetano Damiani, Nelson Marcilio, Zé Peixinho, os Valente, e o grande gaúcho Catharino Andreatta, além do conterrâneo Breno Fornari com uma carretera Simca.

Como outsiders, a Alfa da Jolly, além de diversos independentes com Simcas, DKWs e Renaults.
A largada fora marcada para as 22 horas, e previa-se pelo menos 14 horas de corrida. Na largada estilo Le Mans, Afonso Giaffone Jr. foi o mais rápido, seguido de Marivaldo Fernandes, defendendo as cores da Simca, Jayme Silva e Camilo. Luis Pereira Bueno, com Gordini, saiu por último pois o carrinho não pegou.



Já na primeira volta, Jayme Silva liderava, seguido de Norman Casari (DKW), Catharino Andreatta (carretera), Camilo (carretera), Wilson Fittipaldi Jr. (Gordini) e Damiani (carretera). Jayme e Camilo brigaram muito nas primeiras voltas, e o último conseguiu passar Jayme na quarta volta, ali permanecendo até a sétima. Camilo teve que fazer um pitstop nessa volta, mas recuperou-se, e na 30a. volta já ocupava a liderança mais uma vez, ali ficando até a 50a. volta. Os Gordinis da fábrica que até então faziam uma boa corrida, mas longe da liderança, começaram a melhorar de rendimento, e quando uma intensa neblina caiu sobre a pista de Interlagos, ninguém mais segurou os Gordinis.

Na metade da corrida, Wilsinho liderava com um Gordini, seguido do outro exemplar da fábrica, pilotado por Luis Pereira Bueno e Jose Carlos Pace. Os leves carrinhos davam aos seus pilotos maior confiança no grande fog que se abatera sobre a pista paulistana, permitindo fazer as curvas bem mais rápido do que os carros de maior porte. As carreteras, difíceis de controlar nas curvas mesmo em condições climáticas ideiais e durante o dia, tinham que ser pilotadas com muito cuidado, o mesmo ocorrendo com os Simcas. Jayme, que seguia os Gordini, acabou abandonando a corrida na 102a. volta, e Lolli, com o Simca 44, saiu da disputa na 139a. volta. Alguns concorrentes faziam lerdas voltas de até 10 minutos, ao passo que os Gordinis ponteiros faziam tempos de pouco mais de 4 minutos. Além de ter que lidar com o nevoeiro, Camilo teve muitos problemas mecânicos com a sua carretera, assim distanciando-se cada vez mais da dupla da Willys.

Ao amanhecer, somente 14 carros continuavam na pista, com os dois Gordinis na ponta, Luisinho e Pace na frente, seguido de Bird e Wilsinho, seguidos da carretera de Camilo, e um outro Gordini em 4o. com Rodolfo Olival Costa e Carol Figueiredo. Esse foi um dia dos Gordini mesmo, pois em 6o. e 7o. dois outros exemplares do carrinho (na realidade, em 6o. um 1093), precedendo a carretera de Damiani, auxiliado pelo jovem Eduardo Celidonio, a melhor Simca, de Walter Hahn/Zoroastro Avon, as carreteras de Nelson Marcilio e Breno Fornari, e por último, três DKWs sobreviventes, do pitoresco Bruno Barracano, na frente de Norman Casari/Anisio Campos, com 54 voltas de atraso, e Valdomiro Pieski/Charles Marzanasco, 65 voltas atrás.

Essa foi, sem dúvida, a vitória de maior expressão dos Gordini, abrindo a interessante temporada de 1965.

Curioso notar que 1600 km são aproximadamente Mil Milhas...

Os 500 km de Interlagos de 1973

 

No ano de 1972 a tradicional prova 500 km de Interlagos vivera o seu melhor momento da história: um grid internacional, com velozes carros esporte de qualidade, tanto de equipes européias como brasileiras. O espetáculo não teria rerun, pois os protótipos estrangeiros haviam sido proibidos de correr nas corridas locais do Brasil em 1973, e foi impossível trazer um grid de carros estrangeiros.
Além de ter sido uma prova de gabarito, os 500 km acabaram sendo a única grande prova de “longa duração” do ano, exceto pelas 12 Horas de Tarumã no Rio Grande do Sul. (Houve também a prova 3 Horas de Interlagos, para carros de Divisão 4, que quase termina em retumbante fracasso, com um número pequeno de classificados). Nosso automobilismo passara de uma dieta de grandes e longas provas, para uma dieta quase exclusiva de corridas curtas, em forma de baterias. O público, tão acostumado com as longas corridas, sentira falta.

Ocorre que simplesmente não havia mais carros adaptados para as provas longas em condições de correr. A grande maioria dos Divisão 4 não conseguiria passar de duas horas de corrida, os Divisão 3 eram muito preparados para as provas longas, e a Fórmula-Ford... nem precisa dizer. A tentativa de tornar os 500 km uma corrida de Fórmula Vê não fora muito bem sucedida.

Entra em cena a Divisão 1: categoria de carros de turismo com pouca preparação, pneus radiais, de baixo custo, resistentes e de relativa baixa manutenção. Com essa categoria, viabilizavam-se novamente as corridas de longa duração.

A primeira prova da categoria foi as 25 Horas de Interlagos de 1973, que foi um sucesso, entre outras coisas devido à grande briga entre os Maverick e Opalas. O grid cheio trouxe de volta diversos ases do volante que andavam um pouco “no escanteio”, e a corrida marcou a aposentadoria definitiva de Chico Landi. E com o sucesso das 25 Horas, programaram-se diversas outras provas de longa distância com carros da Divisão 1, basicamente em Interlagos, inclusive os 500 km.

Entretanto, havia uma grande diferença entre os Porsche 908, Ferrari 512 e Alfas T33 da corrida de 1972, e os Maverick, Opalas e Dodges quase standard da prova de 1973. Não se esperava, obviamente, uma prova tão rápida, e o público não compareceu em massa em Interlagos, no dia 9 de setembro.

Apesar do pouco preparo dos carros, os Divisão 1 não foram relativamente tão vagarosos. Nos treinos a pole position foi marcada pelo Maverick da dupla Paulo Olivar Costa e Dante de Camilo, com 1m12s791s, embora haja certo questionamento sobre a veracidade do tempo, visto que nenhum dos dois pilotos reproduziu esta forma novamente

Somente 25 carros participariam da prova, sendo metade carros de grande capacidade, e a outra, carros pequenos. Entre os grandões, alinhariam Mavericks, Opalas, Dodge Charger e um solitário FNM 2150. Entre os pequenos, Corcéis, Chevettes, Brasilias, VW TL e Fuscas. Ou seja, carros de cinco fabricantes.

Os francos favoritos eram os Maverick, que haviam dado uma lavada nos Opalas nas 25 Horas. Como a corrida seria realizada no circuito externo de Interlagos, alguns acreditavam que os Dart/Charger poderiam dar trabalho aos Mavericks, e de fato, Mario Pati Junior e Aloísio Andrade Filho classificaram seus Dodges com tempos bem próximos dos Mavericks menos velozes. Somente cinco Maverick largariam, e marcaram os cinco melhores tempos, com as duplas Costa/Di Camilo, os vencedores das 25 Horas, Nilson e Bird Clemente; Luis Pereira Bueno/Tite Catapani com carro da Equipe Hollywood, Marivaldo Fernandes/Afonso Giaffone Junior e Luis Landi/Antonio Castro Prado. O melhor Opala foi novamente o carro da Brahma, desta feita pilotado por Bob Sharp e Jose Carlos Ramos, em 6° posto. Os outros Opala foram pilotados por Aurelino Machado/Fabio Crespi (9°), Luigi Giobbi/Fernando Vasconcellos da Equipe Itacolomy(11°) e Marinho Amaral/Carlos Gancia (12°). Os Dodge largariam na seguinte ordem: Pati/Adolfo Nardy (7°), Aloisio/Laércio dos Santos (8°), Oliver Jolles/César Rubinato (10°) e “Koki”/Jose Martins (12°). Edgard de Mello Filho e Jose Argentino dividiam um FNM 2150, classificando-se cinco segundos na frente do carro mais rápido da divisão menor, que foi, surpreendentemente, um Corcel, dirigido por Francis Gondim/Paulo Caetano, com a marca de 1m 26s940/1000. De fato, os Corcel aparentemente se adaptaram bem ao anel externo, pois Gondim/Caetano foram seguidos por dois outros carros da marca, Giancarlo Baldratti/Agostinho Ferrarese e Ricardo Mogames/Luis Antonio Brasolin. Estes foram seguidos de um Chevette, pilotado por Luis Evandro Águia e Stanley Ostrower, seguido do TL da Cláudio Cavallini/Ricardo mansur, a Brasilia de Elvio Divani/Pedro Wenk, três Fuscas de Saul Neves/Dario Paolozzi, Jose Luis Nogueira/Paulo Della Volpi e Jose Pangella/Cláudio Dudus. Fechavam o grid o Corcel de Euclides Mussi Junior/Anuar Riscala Adib e o Fusca de Waldemir Silva/Walter Passarella. Este último carro marcou o tempo de 1m38s903/1000, ou seja, com 26 segundos de diferença do primeiro colocado!

Na largada, Luis Pereira Bueno, tri-campeão da prova, disparou na frente, seguido de Marivaldo, Nilson Clemente e o pole De Camilo. Os Maverick foram dominando a prova desde o começo, e a suposta ameaça dos Dodges não se concretizou. De Camilo acabou abandonando na 94a. volta . tendo antes se acidentado. O “pole” foi o único Maverick a abandonar a corrida.

O carro da Equipe Dropgal Ford por pouco não perde a disputa por uma besteira nos boxes. Nilson Clemente passou com o motor já rateando, na 95a. volta, mas conseguiu dar mais uma volta e entrar nos boxes. Só que aí parou no pit errado. A equipe teve que trazer o carro para o pit certo, mas gastou-se mais tempo do que se devia, possibilitando à Equipe Hollywood tomar a liderança da prova. Assim deu-se um duelo eletrizante entre os dois ex-companheiros da equipe Willys, Luisinho e Bird.

Os dois veteranos fizeram uma excelente corrida, culminando com a volta mais rápida da prova, marcada por Luisinho, em 1m13s2/10, média de 157,721 km/h.

Entretanto, o carro da Hollywood teria que fazer uma outra parada, e teve a sua chance de perder a corrida nos boxes. A equipe esperava somente reabastecer o Maverick, mas foi necessário trocar os pneus do lado direito, que se desgastaram demais na acirrada luta entre os veteranos. Gastou-se muito tempo, e apesar das tentativas infrutíferas de Tite Catapani, e a Hollywood teve que se contentar com o segundo lugar. Em terceiro chegaram Marivaldo/Giaffone, seguidos de Luis Landi/Antonio Castro Prado. Na pista o Opala melhor colocado foi o de Giobbi/Vasconcellos, que se recusaram a submeter seu carro a vistoria, sendo assim desclassificados. A vitória entre os Chevrolet ficou com Bob Sharp/Ramos, 5o. O Dodge melhor colocado foi o de Aloísio Andrade/Laércio dos Santos, 7° colocado com 148 voltas, seguido do FNM. Na classe A, Francisco Gondim/Paulo Caetano obtiveram a vitória mais importante da história do Corcel, completando 133 voltas. Uma volta atrás, o Chevette de Águia/Ostrower, seguido de Cavallini/Mansur, com VW TL.

A morte da Mecânica Continental

 

A Mecânica Continental foi um novo nome dado à Mecânica Nacional, categoria de antigos monopostos europeus de Formula 1 com motores americanos, e am alguns casos, monopostos made in Brazil. Muitos dos carros eram bastante velhos, no começo da década de 60, de fato, alguns faziam parte da primeira leva de monopostos que visitou o Brasil nos GP da Gávea do período pré-guerra. Mas era considerada a Formula 1 brasileira, embora os carrões fossem anacrônicos em relação aos pequenos monopostos da F-1 internacional da época, com motores de 1,5 litro e disposição traseira.
Embora alguns ex carros de F-1, como Maseratis 250 F, fossem razoavelmente novos em relação a capegantes Alfas dos anos 30, e um pequeno número de carros de Formula Junior tenha se incorporado à categoria em 1962, em essência formando uma classe B (até 2 litros), a frota da Mecânica envelhecia rapidamente, e muitas das suas corridas tinham que englobar a categoria Esporte, composta de puros sangues europeus como Ferraris, Porsches e Maseratis, além dos pequenos Júnior.
 
Em 1962, o piloto Rio Negro morreu em Interlagos pilotando uma Ferrari. Nos 500 km de Interlagos de 1963, prova realizada no anel externo da pista paulistana, dois outros pilotos morreram, Dinho Bonotti nos treinos, e Celso Lara Barberis, pilotando um Landi Bianco Junior com motor JK, na prova. Barberis era um dos grandes ídolos do automobilismo brasileiro na época, e maior vencedor dos 500 km, e sua morte teve terríveis repercussões.

Pois a categoria começou a ganhar fama de extremamente perigosa. Sim, os Maserati, Alfas e Ferrari com motor Corvette eram rapidíssimos, principalmente no anel externo de São Paulo. De fato, com potentes motores americanos quase qualquer vetusto monoposto poderia ser rápido, mas havia problemas de ordem técnica. Por exemplo, a fadiga de materiais, principalmente suspensões. O aço usado na Itália não era de boa qualidade, e a grande maioria dos carros da M.C. tinha procedência italiana. Além disso, muitos desses carros foram projetados para usar motores de 2,5 litros e pouco mais de 200 HP, e não pesados motores de 5 litros e mais de 300 HP, que vibravam muito. Isso causava mais desgaste, além do que os pneus usados eram, de modo geral, impróprios para a grande potência dos carros. Some a isso o estado calamitoso do piso de Interlagos, falta de guard rails na pista, qualidade técnica questionável de alguns participantes e realmente, as corridas da Mecânica eram em tese muito perigosas.

Assim, no ano de 1964 a tradicional prova 500 km, sempre realizada no anel externo de Interlagos com carros de Mecânica Continental, foi programada para a pista completa, com carros de grupos I e III. Foram realizadas algumas provas da Mecânica Continental durante o ano, mas a questão 500 km foi tratada de forma política. As autoridades do automobilismo queriam demonstrar que algo estava sendo feito sobre a segurança nas pistas, mas por outro lado, possibilitaram às equipes de fábrica reais possibilidades de obter a vitória na corrida, pois até então, as equipes de fábrica tinham disputado a prova somente com os júnior.

Para manter a política de boa vizinhança com os pilotos da categoria, que de modo geral não corriam nos Grupos I e III, foi confirmada a prova 250 Milhas de Interlagos, uns poucos dias após a realização dos 500 km. Ávidos por uma boa disputa, a nata da categoria se inscreveu. Estavam lá Camilo Christofaro e sua bem preparada Maserati-Corvette, além de Chico Landi e Marivaldo Fernandes com um Porsche esporte, Ubaldo Cesar Lolli com Maserati Esporte, Roberto Galucci com Maserati-Corvette, Zé Peixinho ((Maserati Corvette), Luiz Valente (Alfa-Corvette), Augusto Lolli (Ferrari-Corvette), Lauro Soares (Gordini Junior), Vladimir Fakri (Maserati-Lancia), Antonio Carlos Aguiar (Ferrai-Corvette), Eduardo Celiodnio (Maserati), Nelson Marcilio e Alcides Camporesi (Alfa Corvette), Nicola Papaleo (Ferrari), Bica Votnamis (Maserati Corvette) e Ayres Bueno Vidal (Maserati-Simca).

Também inscritos o piloto Americo Cioffi (Maserati-Studebaker) e Al Capone (Maserati-Lancia).
Antes da largada, Cioffi estava muito nervoso, e cometeu o erro de tomar um calmante. O remédio obviamente diminuiu sua tensão, mas também seus reflexos. Adicione-se a isso os fatores enumerados acima, e o pior aconteceu. Cioffi capotou o seu carro na curva 3, enquanto ocupava o quarto lugar, e faleceu no ato, levando sua família ao desespero.

Pouco depois, Al Capone, cujos raios da roda traseira direita tinham caído, sofre um acidente a capota na curva 2. Foi socorrido por Ciro e Ari Cayres, e por pouco não ocorrem duas mortes no mesmo dia. O próprio vencedor Gallucci julgou que o piloto do carro 5 havia sucumbido.

Cioffi tomando o fatídico calmante. A morte do piloto contribuiu para colocar um ponto final na categoria

Quatro mortes no curto espaço de dois anos, um nível de perigo equiparável ao da Formula Indy da época! A prova John Kennedy, programada para 11 de outubro de 1964, ainda assim foi realizada em Interlagos com os carros da Mecânica Continental, mas de certa forma, estava decretada a morte da categoria. Na prova Kennedy, Antonio Carlos Aguiar quase tem um acidente idêntico ao de Cioffi, com sua Ferrari-Corvette, no mesmo lugar onde Cioffi capotou e morreu. A desgastada barra de direção quebrou, e com muita perícia o piloto evitou um acidente mais sério. Alguns Mecânica ainda participaram dos 500 km e nas 250 Milhas de 1965, mas daí até 1966, as provas da categoria foram pouquíssimas, com um número reduzido de concorrentes, pois muitos carros foram permanentemente aposentados. O golpe final foi o clima econômico incerto do período pós-revolução, com alta inflação e depois recessão, que tornou a já caríssima categoria simplesmente inviável. Assim morria a 'Formula 1 brasileira'.

MISTURA FINA: OS 500 KM DE INTERLAGOS DE 1965

 

A tradicional prova 500 km de Interlagos teve todo um gosto de novidade e, ao mesmo tempo, rito de passagem, na sua edição de 1965. Após ter sido disputada na pista completa em 1964 pela primeira vez, a prova voltaria a ser corrida no anel externo, em 1965. Tradicionalmente disputada no fim de semana de 7 de setembro, ou no próprio dia, nesse ano a prova foi realizada em 31 de outubro.

Até a edição de 1963, a corrida era disputada com carros de mecânica continental e nacional, ou seja, antigos monopostos de fórmula um equipados com motores americanos, monopostos criados no Brasil com motores americanos e carros esporte europeus “puro sangue”. Na prova de 1963, dois pilotos morreram, e os carros da mecânica continental foram escolhidos de bode expiatório. Os cartolas julgaram que os carros eram muito velhos, inseguros, e com a prova disputada no anel externo, quase um oval, a tendência era de ocorrer acidentes anualmente. Há um pouco de verdade e um pouco de mentira nisso. Certamente os carros de mecânica continental estavam caindo aos pedaços em 63. Muitos eram carros que haviam disputado as corridas da Gávea nos anos 30, e, portanto, já deveriam ter sido aposentados. Mas o carro de Celso Lara Barberis, um dos falecidos na corrida de 63, era na realidade um Fórmula Junior recém construído, portanto a tese de insegurança com base na antiguidade dos autos era fraca. Para mudar as coisas, os cartolas fizeram um 500 km totalmente diferente em 64: corrida na pista completa e nada dos Continentais.

Para 1965, as coisas voltaram a ser mais ou menos como eram: os mecânicas continental e nacional seriam admitidos na corrida. Entretanto, em dois anos o número de mecânicas-continental em condições de disputar uma prova de 500 km era muito pequeno. Se nas provas de campeonato paulista, com meras 8 voltas, o número de inscritos já era pequeno, o que se esperar de uma prova de 500 km?

Assim, 1965 foi a despedida dos mecânica continental da sua principal prova: somente três foram inscritos para a corrida: a Maserati 3 litros de Ubaldo César Lolli, a Ferrari 2000 de Domingos Papaleo e a Maserati-Corvette 4500 de Roberto Galluci (somente esta última monoposto). O bicho papão da Continental, Camilo Christófaro, não apareceu, quem sabe ainda sentido com os acontecimentos da Prova de IV Centenário do Rio de Janeiro, ou, segundo as más línguas, boicotando devido aos baixos prêmios pagos pelos organizadores.

A prova também foi a despedida dos Fórmula Júnior no Brasil: Ludovino Perez apareceu num Landi-Júnior equipado com motor Gordini, sem a mínima chance de obter boa colocação.

Esta corrida também foi a última edição dos 500 km com participação das três equipes de fábrica, Simca, Vemag e Willys. A primeira, na condição de dominadora do ano, inscreveu dois carros, um Simca Abarth para Jayme Silva, e o Protótipo Simca Tempestade, para Ciro Cayres. A corrida também acabaria sendo a despedida dos Simca Abarth no Brasil. No artigo sobre a corrida do IV Centenário, relatamos que a alfândega repentinamente se interessara pela situação das clandestinas Abarth, que deveriam ter ficado somente um ano no Brasil, e já estavam ilegais. Com uma liminar, Chico Landi, que era o chefe da Simca, conseguiu liberar a 26 para a corrida, enquanto a alfândega retinha as outras duas.

Despedida de uns, estréia de outros. O Fórmula III Willys Gávea finalmente faria a sua estréia em corridas, preparando-se para uma possível temporada de F-3 na Argentina, e quem sabe, uma temporada na Europa, guiada por Wilson Fittipaldi Jr. Curiosamente, o calendário oficial daquele ano continha diversas datas para corridas de Fórmula 3, que os cartolas pretendiam fossem disputadas com os ex-Fórmula Júnior, e quem sabe, por algum carro novo como o Gávea. No fim das contas, não houve nenhuma corrida de F-3 ou F-Júnior, e a tão aspirada F-3 sul-americana só se tornaria realidade uns 20 anos depois.

Também foi nessa corrida que o nosso primeiro campeão mundial, Emerson Fittipaldi, estreou nessa corrida, dirigindo um Interlagos. Curiosamente, correriam nessa prova quatro pilotos brasileiros que chegariam um dia à Fórmula 1: além dos irmãos Fittipaldi, também disputaram a corrida Luis Pereira Bueno e José Carlos Pace.

Colocando mais tempero na mistura, correriam três Malzoni de fábrica, com a notável ausência de Marinho, que desta feita comandava a equipe do boxe; dois Alpines da Willys, e quatro Interlagos, inclusive o do independente Waldemir Costa, comandante da Varig.

Ou seja, embora só 16 carros estivessem inscritos, havia uma bela diversidade no grid. Verdadeira salada mista. Carros de 1000 cc a 4500 cc. Ex Fórmula 1, e Fórmula Júnior. GTs europeus de última geração e alguns já antigos. Carros estreantes e veteranos.

Nos treinos, Ubaldo César Lolli mostrou toda a força da sua Maserati, obtendo o melhor tempo, acompanhado de Wilson Fittipaldi Jr. e Luis Pereira Bueno na primeira fila. Na segunda fila, três Malzoni, com Anísio Campos, Eduardo Scuracchio e Francisco Lameirão. Na terceira, Bird Clemente, José Carlos Pace e Emerson Fittipaldi. Na quarta fila, Carol Figueiredo, Roberto Gallucci e Ludovino Perez Jr.; na quinta fila, Cyro Caíres, Waldemir Costa e Jayme Silva. Na última fila, Domingos Papaleo.

Para aumentar o drama da prova, chovia naquele dia em Interlagos, fator que obviamente não favoreceria os carros mais potentes. Ainda assim, Ubaldo disparou na frente, seguido do Gávea e Luisinho. Jayme Silva largou como um foguete, e já ocupava a quarta posição na primeira volta, seguido de Anísio, Bird, Cyro, Scuracchio, Lameirão, Emerson, Carol, Waldemir, Moco, Ludovino e bem atrás, Papaleo. Na segunda volta, quem aparece em segundo é Bird Clemente, seguido de Wilson, Luisinho e Jayme. A corrida muito promete, pois na terceira volta já é Jayme quem desponta em primeiro, seguido de Lolli, Luisinho, Bird e Wilsinho. Cyro, com a sua Tempestade/Perereca, já vem colado neles, e Galucci bem atrás dos três Malzonis, com uma atuação até então apagada. Cyro já estava em quarto, na quarta volta, mas infelizmente, nem Bird, nem Cyro Caíres durariam muito na corrida. Bird abandona na sexta volta, e Cyro seis voltas depois. A fraca Ferrari de Papaleo também abandona na sétima volta.

Com quarenta minutos de corrida, o pole Ubaldo abandona a sua Maserati, enquanto ocupava a vice-liderança. Pouco a pouco, o caminho vai se abrindo para Jayme, pois agora só tinha como reais rivais Luis Pereira Bueno e Wilsinho. Entretanto, Gallucci e a sua pesada Maserati-Corvette, vão pouco a pouco se aproximando da ponta. Cabe lembrar que Gallucci fora o vencedor das duas últimas edições dos 500 km ganhas por um mecânica continental, em 1962 e 1963.

Após uma hora, Wilsinho Fittipaldi ultrapassa Jayme, e o pequeno monoposto “made in Brazil” lidera a papona Simca Abarth. Infelizmente, durou pouco o sonho, e logo Jayme Silva voltou ao primeiro lugar. Gallucci a esta altura já estava em terceiro, e certamente sonhando com a sua terceira vitória na prova, pois os três ponteiros giram com tempos muito parecidos, entre 1m17 a 1m19s.

Já chegando ao final da prova, com duas horas e meia de corrida, os três primeiros se consolidam na ponta. Wilsinho para reabastecer seu monoposto, e gasta 1m e 45 segundos, deixando Gallucci assumir o segundo posto. A grandota Maserati tinha tanques imensos, e supostamente, não teria de ser mais abastecida. Jayme parou para abastecer, e gastou 45 segundos.

Apesar de não precisar de gasolina, Gallucci acabou precisando de óleo, e acabou parando. Apesar de não ser de uma equipe de fábrica, como seus rivais, o pessoal do boxe atuou rapidamente. Aí o drama. O carro morreu. Quatro homens empurram a velha máquina, que não dá sinal de vida. Wilsinho passa. Um batalhão empurra a Maserati-Corvette, que se recusa a funcionar. Outros pilotos vão passando: Luisinho, Emerson e o comandante Costa da Varig. Finalmente a Maser pegou, mas já era tarde. Gallucci acabou ficando com o sexto lugar, num emocionante, mas melancólico fim da atuação dos mecânica continental nos 500 km de Interlagos.

15 Minutos de fama da Brasinca em Interlagos

15 MINUTOS DE FAMA BRASINCA E LORENA

Segundo vimos em outros artigos, o automobilismo brasileiro da primeira metade dos anos 60 era dominado pelas equipes de fábrica da Willys, Simca e DKW. Salvo pelas corridas de carreteras, mecânica continental e Fórmula Júnior, as provas geralmente acabavam sendo ganhas pelos carros das três fábricas, ou por particulares correndo com produtos das três. O JK era o carro brasileiro mais potente da época, mas apesar de um início auspicioso nas corridas, foi pouco usado a partir de 1963.

De vez em quando, aparecia alguém com algum carro estrangeiro ou com algum protótipo ou híbrido, com o propósito de bater os carros das fábricas, por exemplo as Alfas da Jolly e os Karmann-Ghia Porsche. A história do Brasinca é inusitada, pois na realidade era um carro fabricado no Brasil, e ainda por cima, completamente fora dos moldes da época.

Para começar, o Brasinca era equipado com um motor Chevrolet de 4,2 litros, que era o mesmo motor usado pela GM nas suas pick-ups e peruas, projetado nos anos 30 (Foi o primeiro carro brasileiro fabricado com motor Chevrolet). Ou seja, era de longe o carro brasileiro de maior cilindrada até aparecer o Galáxie em 1967, acabando por ser também o mais potente na época. De estilo arrojado para a época, o carro criado por Rigoberto Soler era peculiar pela sua largura, necessária para encaixar o motorzão dianteiro. (Dizem as más línguas que acabou sendo copiado pela fábrica inglesa Jensen, cujo Interceptor lembra muito o peculiar GT brasileiro – realmente se parecem muito). E com a partida dos Simca-Abarth para a Europa, de repente o Brasinca se tornava um grande candidato para as pistas. Praticamente standard, o carro estreou em uma corrida em Curitiba, liderando a Equipe Simca até quebrar. Os pilotos escolhidos para a empreitada foram um ex-piloto da Simca, de 22 anos, o piracicabano Walter Hahn, e Expedito Marazzi, que mais tarde viria a ser proprietário de uma famosa escola de pilotagem em Interlagos, além de ser editor da Auto Esporte.

1966 foi um ano de transição no automobilismo brasileiro. Foi o ano do fechamento das equipes Simca e Vemag, do enfraquecimento da Willys e do fortalecimento da Dacon e da Jolly. E foi justo contra esta última que o Brasinca batalhou com mais frequência, em Interlagos.

O último domingo de março de 1966 seria um dia de corridas em Interlagos. Nada muito sério, as provas nem valeriam para o campeonato paulista. Ainda assim, a Brasinca encarou a corrida com a maior seriedade possível, e o objetivo era bater a Alfa Giulia de Piero Gancia e a Alfa Zagato do jovem Emerson Fittipaldi. Dois carros de concepção bem diferente, cabe lembrar. As estrangeiras Alfas tinham um terço da cilindrada do Brasinca, eram mais leves e ágeis. O brasileiro Brasinca mais potente, porém quase standard.

A corrida tinha gosto de revanche. Em fevereiro Hahn e Emilio Zambello haviam batalhado em Interlagos, em corrida válida para o campeonato paulista, e apesar de não ter feito má figura, os pneus do Brasinca não aguentaram e a Alfa Giulia acabou vencendo o GTzão brazuca.



Chovia naquele domingo, e a batalha se iniciou. Nas primeiras voltas o Brasinca andou atrás da Zagato de Emerson, com Gancia atrás. Só que ocorreu o oposto da corrida de fevereiro. Desta vez as duas Alfas quebraram e Walter Hahn acabou ganhando a corrida com a média de 112,5 km/h, chegando a rodar em 4m04s, bom tempo para chuva. Em segundo acabou chegando um Interlagos, com Helio Mazza.

Foi dia de festa em Interlagos, para Rigoberto Soler e para Walter Hahn. Animados, voltaram para Interlagos algumas semanas depois, e em prova válida para o campeonato paulista, mas o GT foi batido por Gancia novamente. Apesar dos pesares, Hahn acabou campeão paulista na divisão GT, em 1966, animando a Brasinca a desenvolver uma versão 4200 GT S, com taxa de compressão 8:1. comando de válvulas preparado e três carburadores Weber SJOE, que elevavam a potência do fora de série para 171 CV, a 4.800 rpm, para as corridas de longa duração. Infelizmente, a produção do Brasinca era muito cara, e comercialmente inviável para a época. Ao todo, foram montados 76 Brasincas, sendo que no final de 1966 a empresa, tradicional fabricante de auto-peças e carrocerias, desistiu do projeto. Este retomou o nome original, Uirapuru, em 1967, com outros investidores, entre os quais, Soler e Hahn. Não vingou, o que significou também o fim do Uirapuru nas pistas.